Brasileiros se afundam em dívidas para tentar sobreviver

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Em um cenário com uma inflação de dois dígitos, desemprego ou trabalho precário, juros em alta e renda em queda, fazer um empréstimo está longe de ser a melhor opção. No entanto, para muitos brasileiros, essa tem sido a única saída para tentar sobreviver no Brasil de 2022. Segundo a Serasa Experian, a busca de crédito por pessoas físicas no último mês de maio foi 11,2% maior do que no mesmo período de 2021.

Para boa parte dos brasileiros, tomar um empréstimo para pagar dívidas de empréstimos anteriores e ainda ter um pouco de dinheiro para as despesas básicas tem se tornado comum. O grande problema para milhões de famílias que estão inadimplentes ou podem se tornar em breve, é que a taxa básica de juros já está em 13,25% e tende a subir nos próximos meses.

“Os consumidores, mesmo com a alta da taxa de juros, continuam atuando com o modelo de consumo por necessidade e utilizando o crédito para honrar compromissos financeiros, além de complementar o pagamento de itens e serviços prioritários que não puderam ser pagos com o orçamento mensal habitual”, explicou Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, em entrevista ao Estadão.

Segundo um levantamento da Serasa, a busca por crédito aumentou em todas as faixas de renda analisadas. Na mais baixa, com renda mensal de até R$ 500, a procura cresceu 11,3% em relação a 2021. No segmento entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, o segundo mais alto, o crescimento foi ainda maior, de 13%, enquanto na faixa mais alta, a partir de R$ 10 mil, foi de 12,9%.

Como não poderia deixar de ser, a inadimplência também cresce assustadoramente. De acordo com a Serasa Experian, 66,13 milhões de pessoas ficaram com o nome no vermelho em abril, 3 milhões a mais que no mesmo mês de 2021 e o maior número desde o início da série histórica, em 2016. Somente de dezembro do ano passado a abril, 2 milhões de pessoas passaram a ser inadimplentes.

Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o número de famílias com algum tipo de inadimplência – contas vencidas como prestações de imóveis ou carros, compras parceladas no cartão de crédito ou empréstimo pessoal – chegou a 77,4% em maio, o segundo maior número da série histórica, atrás apenas dos 77,7% registrados em abril deste ano.

Combate ao endividamento

Para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tirar milhões de brasileiros da inadimplência é, mais do que uma medida humanitária, uma forma de recuperar a própria economia do país. “Se o povo estiver falido, se o povo estiver devendo como hoje, se o povo não tiver poder de compra, ninguém vai investir, porque não tem para quem vender”, afirmou ele, em uma entrevista recente. “É preciso reduzir a política de juros, resolver o problema da dívida de 70 milhões de famílias brasileiras que estão endividadas nos cartões, algumas porque estão utilizando o cartão para comprar comida

O endividamento das famílias brasileiras também é uma das questões abordadas pelas diretrizes do programa Juntos Pelo Brasil, que propõe uma política pública para enfrentar o problema. A lista completa de propostas pode ser acessada neste link.

“Como a renda familiar dos brasileiros e brasileiras desabou e o endividamento das famílias explodiu, já são mais de 66 milhões de pessoas inadimplentes, vamos promover a renegociação das dívidas das famílias e das pequenas e médias empresas por meio dos bancos públicos e incentivos aos bancos privados para oferecer condições adequadas de negociação com os devedores. Avançaremos na regulação e incentivaremos medidas para ampliar a oferta e reduzir o custo do crédito, ampliando a concorrência no sistema bancário”, diz o programa.