Como age um Presidente durante uma tragédia?

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Temporais que atingiram a região metropolitana de Recife e a Zona da Mata pernambucana na última semana deixaram, até o momento, 106 mortos, 16 desaparecidos e 6.198 desabrigados. É a maior tragédia do tipo em Pernambuco desde 1975. As chuvas também fizeram vítimas em Alagoas, com 4 mortos, 2.576 desabrigados e 15.542 desalojados. Enquanto isso, Bolsonaro se ocupa contando mentiras, colocando em cheque as eleições e ameaçando repetidamente a democracia.

Quando Lula era presidente

Em 2010, ao final da gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pernambuco e Alagoas também foram atingidos por fortes chuvas. Lula cancelou sua participação em uma reunião do G20 no Canadá, onde iria discutir com outros líderes mundiais os efeitos da crise que ainda atingia a economia mundial e teria reuniões bilaterais com o então presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.

Lula, uma comitiva de ministros (incluindo os titulares das pastas da Saúde e da Educação) e técnicos foram aos estados, visitaram as áreas alagadas, conversaram com as pessoas atingidas e se reuniram com os governadores dos estados. Como forma de ação emergencial, anunciou a destinação de uma verba inicial de R$ 275 milhões para cada estado, que poderia ser ampliada conforme a necessidade.

“Eu tenho um compromisso moral, enquanto ser humano, enquanto presidente, enquanto homem, enquanto brasileiro, de ajudar essa gente a reconstruir a sua vida. É por isso que nós já tomamos a atitude de colocar à disposição dos governadores R$ 275 milhões como antecipação”, disse Lula na ocasião, durante uma coletiva de imprensa.

Além da verba para os estados, outras ações emergenciais incluíram a liberação do FGTS para saque pela população das cidades atingidas, a criação de uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para comerciantes e produtores agrícolas, e o repasse de R$ 51 milhões do Ministério da Educação para a realização de reparos nas escolas que foram danificadas.

Quando Dilma era presidenta

Em 27 de janeiro de 2013, Dilma Rousseff participava da primeira cúpula da comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos (Selac) e União Europeia, no Chile, quando ocorreu um incêndio devastador em uma boate em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ela interrompeu sua participação na reunião internacional e voltou ao Brasil, deslocando-se imediatamente para a cidade, para onde já havia enviado uma série de ministros, como os das pastas da Saúde e dos Direitos Humanos.

“É uma tragédia para nós todos. Eu não vou continuar na reunião, por razões muito claras. Quem precisa de mim hoje é o povo brasileiro. É lá que eu tenho que estar. Eu pedi a todos os meus ministros que possam contribuir para minorar essa tragédia para estarem lá, e eu vou estar também. Falei com o prefeito, com o governador (…) Há uma mobilização de recursos para que possamos fazer o resgate dos corpos e um tratamento muito rápido e eficiente para os feridos (…) Eu queria dizer para a população do nosso país e também para a população de Santa Maria o quanto, nesse momento de tristeza, nós estamos juntos e necessariamente iremos superar, mantendo a tristeza”, disse Dilma, ainda no Chile.

Com Bolsonaro presidente

Desde o último dia 25, Pernambuco e Alagoas sofrem com os temporais. No dia 30, Bolsonaro sobrevoou áreas alagadas e disse, em entrevista, que a população poderia “ajudar” e não construir em área de risco. O presidente disse ainda que, “infelizmente, essas catástrofes acontecem”. Após pressão, o governo federal anunciou a liberação do FGTS para a população assistida e a possibilidade de antecipação de parcela do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para os atingidos, sem juros.

Ainda nesta semana, Bolsonaro foi ao programa do Ratinho comentar sobre sua relação com artistas, e ao programa de seu apoiador Sikêra Júnior, em que Michelle Bolsonaro, a primeira dama, afirmou que o presidente é “imbrochável” e “incomível”.

Em agenda em Goiás, na última terça (31), Bolsonaro voltou a ameaçar a democracia e a colocar em dúvida o resultado das urnas. Ele também desfilou de moto sem capacete.

Bolsonaro foi o presidente responsável pela morte de mais de 660 mil brasileiros durante a pandemia de Covid-19. Mas, nas palavras de Jair, ele “não é coveiro” para se preocupar com morte.

Estão aí as prioridades de cada um dos presidentes.