O descaso do governo com a educação deixa as universidades federais em apuros, algumas delas com risco de paralisar atividades por falta de dinheiro para pagar contas básicas como água e luz.
As pastas de educação e saúde foram fortemente afetadas pelo novo corte orçamentário anunciado na semana passada. Dos R$ 14,8 bi contingenciados, R$ 2,7 bilhões são na pasta da Saúde e R$ 1,2 bilhão na de Educação.
Alvo constantes do governo Bolsonaro, as universidades enfrentam o desafio de ficar de pé com orçamentos insuficientes. Em 2021, por exemplo, o orçamento discricionário, aquele que pode ser remanejado de área, foi de R$ 4,4 bilhões, quase um terço dos R$ 12 bilhões disponíveis em 2011, fase áurea dos governos petistas, período em que a educação foi tratada com grande prioridade.
Falta até combustível
Levantamento do jornal O Globo junto a universidade revelou a gravidade da perda de recursos. Um exemplo citado foi o da UFRJ, que só tem caixa para pagar as contas até o próximo mês.
“A expectativa é de que as empresas ainda prestem serviço no mês de outubro. Mas se nada acontecer em termos de recomposição orçamentária, em novembro e dezembro podemos ter que suspender contratos e interromper as atividades em toda universidade”, informou a instituição à reportagem.
A Universidade Federal de Santa Catarina revelou estar com funcionamento comprometido até meados de novembro. A Universidade Federal do Pará, que em 2022 opera com menor orçamento da história, diz não haver mais o que reduzir de despesas.
“Sem dinheiro para combustível, a Universidade Federal da Grande Dourados informa que corre risco de não conseguir ofertar aulas a comunidades indígenas e camponeses que estudam na modalidade de alternância e precisam se deslocar de suas localidades. A Universidade Federal de Sergipe proibiu o uso de ar-condicionado em todo o câmpus. A Universidade de Brasília cortou até em livros. A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro estuda diminuir o uso de recursos do portal de internet”, diz a reportagem.
Desleixo com a educação
Ao todo, 17 instituições federais de ensino superior relataram dificuldades variadas e correm risco de interromper as atividades até o fim do ano, segundo o jornal. A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) não tem como consertar telhados, infiltrações paredes mofadas e salas interditadas pelas chuvas que atingiram a região em maio.
Em editorial publicado nesta terça, 2, O Globo critica o contingenciamento, defende revisão urgente dos cortes no orçamento diz que “criar uma situação que leva ao fechamento de salas de aula justamente quando todas as atividades são retomadas é o cúmulo do desleixo com a educação”.