Um milhão de jovens recém-formados na universidade convivem com o peso de terem o nome sujo na praça por não conseguirem pagar as parcelas do Fies. O programa de financiamento estudantil que permitiu a milhões de brasileiros chegarem ao Ensino Superior virou um tormento. Com o país vivendo uma profunda crise econômica, com a renda das famílias despencando e um mercado de trabalho que não cria oportunidades de trabalho para esta mão de obra qualificada, 60% dos beneficiários do Fies não conseguem pagar as mensalidades do empréstimo.
Esta situação sensibilizou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem repetido em suas entrevistas e falas em eventos públicos a necessidade de se conceder o perdão às dívidas do Fies. A preocupação do ex-presidente inspirou um projeto de lei no Congresso Nacional. A proposta foi apresentada pelo senador Rogério Carvalho, do PT de Sergipe. O PL 4093/2021 estabelece a anistia dos débitos, juros e multas de todos os contratos fechados até 31 de dezembro deste ano.
Recentemente, Lula lembrou do drama dos jovens que não conseguem pagar o Fies durante discurso em uma das mais prestigiadas universidades do mundo, a Sciences Po, na França. Lula foi convidado para falar em uma conferência sobre o futuro do Brasil, que também comemorava os 10 anos do título de Doutor Honoris Causa recebido da instituição logo após deixar a Presidência da República.
Ao dizer que “não existe na humanidade exemplo de país que se desenvolveu sem investir em educação”, o ex-presidente lembrou que políticas educacionais como o Fies “mudaram a cara do Brasil”. Para ele, o governo atual vê o endividamento dos universitários como um incômodo.
“Qual é o incômodo pro governo anistiar a dívida de jovens que não conseguiram pagar a universidade, se todo ano fazíamos Refis [Programa de Recuperação Fiscal] para anistiar os empresários que não pagavam seus impostos e a gente os perdoava?”, disse Lula. “Um governo que sabe fazer tanto perdão para empresários, por que que não pode fazer uma vez na vida perdão para os estudantes que tomaram dinheiro emprestado para estudar?”.
No mesmo discurso, Lula fez questão de contar como o seu governo discutia o tema da educação. “Nas primeiras reuniões do meu governo, quando a gente ia falar de educação, de cota, de fazer mais universidades, mais campi, sempre aparecia alguém pra dizer não tem dinheiro, a gente não pode gastar. Essa ideia de que a gente não pode gastar, muitas vezes ela é induzida para que você guarde o dinheiro para pagar para o sistema financeiro, quando na realidade a gente podia gastar em alguma coisa mais produtiva para o país. Então, eu lembro que nós proibimos, numa reunião de governo, utilizar a palavra gasto quando se tratava de discutir em educação.”
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