A essa altura, não há dúvida alguma de que o governo do presidente Jair Bolsonaro está mergulhado em corrupção, embora o presidente siga negando veementemente qualquer desvio. Com ele é assim: sem investigação, não tem corrupção. E, se há tempos se denuncia que ele ativamente interfere na apuração desses casos, aos poucos temos recebido mais e mais denúncias que mostram a digital do presidente da República inquestionavelmente em mais e mais escândalos.
Na grave crise que hoje ronda o Ministério da Educação (MEC), uma das pastas com maior verba da Esplanada, o ex-ministro o ex-ministro Milton Ribeiro foi exonerado do cargo em 28 de março, dias depois de virem a público áudios em que o ele dizia priorizar prefeituras cujos pedidos de liberação de verbas fossem negociados por dois pastores sem cargo e que atuavam em um esquema informal dentro do MEC, como em um gabinete paralelo.
Nesta semana, a Folha de S.Paulo revelou que a presidência da República solicitou oficialmente à pasta, por e-mail, que recebesse, a pedido do presidente Bolsonaro, o pastor Arilton Moura, um dos investigados no esquema de corrupção da pasta. Vale lembrar que Prefeitos que conseguiam o atendimento de suas demandas precisavam retribuir com dinheiro vivo, barras de ouro, contratos de compra de Bíblia e apoio para eventos pentecostais, promovendo cultos e contribuindo para a construção de igrejas”, reportou a Isto É.
O pedido, que partiu do gabinete do então ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, cotado para ser vice na chapa à reeleição de Bolsonaro, mostra uma preocupante proximidade com o Palácio do Planalto e, à época, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) negou informar a O Globo, via Lei de Acesso Informação, dados sobre o fluxo de entradas e saídas dos pastores ao local.
As pegadas de Bolsonaro também foram encontradas em outros casos de corrupção do MEC. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) foi entregue de bandeja por Bolsonaro ao Centrão, que nadou de braçada nos milhões de reais em recursos destinados à instituição.
Em um dos casos, Jair Bolsonaro destinou R$ 26 milhões de recurso do MEC para a compra de kits de robótica para escolas de pequenos municípios de Alagoas que nem sequer contam com água encanada e computadores. Pior: a empresa Megalic, ligada ao vereador de Maceió João Catunda (PSD), que é aliado de Arthur Lira (PP), vendeu kits de robótica para prefeituras com uma diferença de 420% em relação ao preço que declarou ter pago.
Antes disso, o Ministério da Educação foi acusado de tentar superfaturar em mais de R$ 700 milhões a compra de ônibus escolares. O governo abriu um processo de licitação para pagar R$ 480 mil por veículo destinado ao transporte de estudantes em áreas rurais. No entanto, Técnicos do FNDE apontaram que cada um deveria custar no máximo R$ 270 mil.
Paralelamente a isso, explodiu o esquema das escolas fake. O MEC autorizou a construção de 2 mil novas unidades em pleno ano eleitoral sem que houvesse qualquer previsão de conclusão das obras nem dinheiro sequer para terminar 3,5 mil unidades em construção há anos.
Mesmo diante de provas robustas de que Jair Bolsonaro transformou a pasta em um balcão de negócios, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, adiou a abertura da CPI do MEC para depois das eleições.
Suspeitas de corrupção na negociação de vacinas
E não é apenas no MEC que os esquemas de corrupção têm um dedo de Bolsonaro. Não se pode esquecer que, durante a CPI da Covid, vários depoimentos davam conta de que ele tinha conhecimento da existência de corrupção nas negociações de compra de vacinas pelo Ministério da Saúde e nada fez. O deputado federal Luis Miranda afirmou que levou pessoalmente ao presidente documentos que comprovavam a ocorrência dos crimes.
Mesmo diante de todos os indícios, o presidente conseguiu se safar por meio da velha e conhecida tática do bolsonarimo: sem investigação, não há corrupção. O procurador-Geral da República, Augusto Aras, que deveria agir com imparcialidade, engaveta toda e qualquer investigação contra o presidente. A pedido dele, o caso da Covaxin foi arquivado pelo STF.
Os esquemas do MEC ainda estão sendo apurados, mas o Capitão Censura está vigilante e atento para garantir que ele, seus filhos e asseclas não sejam responsabilizados pelo que fizeram.