“Porque a gente ainda vai festejar, e muito. A alegria, a liberdade e a justiça de um povo que não tem medo e que não se entrega não.” Foi com essas palavras que Lula agradeceu os artistas que transformaram o sonho do Festival Lula Livre em realidade. Mais do que isso: em um dia para entrar para a história.
Mais de quarenta músicos, poetas, atores, cineastas, artesãos e dançarinos se revezaram em dez horas de programação para as mais de 80 mil pessoas que passaram pelos Arcos da Lapa – e outros milhares que acompanharam pela TV e internet. Do funk ao folk, passando por samba, pop, MPB, música latina e rap.
A noite terminou com a antológica reunião de Gilberto Gil e Chico Buarque em Cálice, quarenta e cinco anos depois do histórico show Phono 73, mais uma vez bradando contra o “Cale-se” autoritário. “Todos nós que aqui representamos, hoje, o desejo nacional de libertação do nosso líder, manifestamos o processo de luta democrática permanente que temos que ter no país e no mundo inteiro. Viva a democracia. Lula Livre!”, pediu Gil.
O encontro foi coroado pela presença exuberante de Beth Carvalho. Uma das grandes apoiadoras do evento, ele entrou no palco cantando o jingle composto especialmente para o festival (confira a letra aqui.) e comemorou a união da esquerda. Juntos, os três bradaram em nome da liberdade de Lula e da democracia.
O bloco final teve ainda Noca da Portela, Batuque da Lan Lanh, Marcelo Jeneci, Chico César e uma rara aparição de Sérgio Ricardo, compositor da canção que deu origem ao filme Deus e o Diabo na Terra do Sol. O sambista lembrou a amizade com ex-presidente (ele compôs vários jingles para Lula) e mandou um recado: “Lula, você é meu companheiro. Tenho fé no homem lá de cima que você vai sair dessa!”
No último ato, todos os artistas e apoiadores subiram no palco para repetir e amplificar o gesto que tem marcado a resistência na Vigília Lula Livre, e desejaram em coro: Boa noite, presidente Lula!
Confira outros momentos marcantes do evento:
Odair José animou o público do festival com o hit Eu vou tirar você desse lugar, e aproveitou os trocadilhos para mandar um recado a Lula. e ainda cantou: “cadê você, que nunca mais apareceu aqui, que não voltou para me fazer sorrir.” O cantor afirmou que, nesse momento, não poderia estar em outro lugar que não fosse a Lapa. “Não podemos permitir que o presente leve o futuro de volta para o passado”.
O teólogo Leonardo Boff também subiu ao palco para ler um manifesto pela liberdade de Lula. “Está confuso, mas eu sonho. Sonho ver um Brasil construído de baixo para cima e de dentro para fora, forjando uma democracia popular e participativa.”
Radicado nos Estados Unidos, o músico Daniel Teo voltou ao país natal especialmente para participar do Festival Lula Livre. Ele compôs recentemente uma a canção You’re not Alone que põe Lula ao lado de líderes como Mandela e Dalai Lama.
Vários atores e atrizes deram brilho aos intervalos entre um show e outro emprestando a voz a jograis e manifestos. Logo no início do festival, Lucélia Santos leu um manifesto assinado por Chico Buarque, Conceição Evaristo, José Celso Martinez e outros medalhões da cultura exigindo a libertação de Lula e conclamando o público a resistir aos ataques à democracia.
“Inadmissível é não permitir que Lula participe das eleições. Inadmissível é mantê-lo preso num flagrante desrespeito às regras mais elementares da Justiça.” Emocionado, o público fortaleceu o pedido bradando em coro: “Lula! Guerreiro! Do povo brasileiro!” e outros gritos de ordem. A comoção foi tanta que, em certo momento, ela teve que pedir silêncio para continuar a leitura.
Coube a Herson Capri dar vida à carta que Lula escreveu especialmente para o evento. “Eu tô muito nervoso, depois de 50 anos de profissão, porque eu vou ler uma carta que foi enviada para nós todos aqui em cima, e para nós todos aí embaixo”, brincou. O presidente agradeceu a solidariedade e lembrou a importância da arte na retomada da esperança em um Brasil melhor. Leia a íntegra do texto aqui.
Já o ator Fábio Assunção leu uma carta que ele mesmo escreveu a Lula. No texto, ele fala das impressões positivas que teve do povo durante filmagens na Paraíba: “Então, fica aqui meu agradecimento pela potência que é o ser humano, quando é olhado e incentivado. E você fez isso pelo Brasil. Nunca poderão tirar sua marca, sua digital e seu coração.”
Em entrevista à Agência PT, o ator contou que sua vontade de manifestar-se politicamente é recente. “Sempre tive a convicção de não me envolver em política, mas eu acho que o momento que a gente está é um momento de covardia, de injustiça, o país está triste.”
Orã Figueiredo, Osmar Prado, Maeve Jinkings, entre outros artistas, também marcaram presença no festival.
Dia de festa, mas também de protesto. Ao longo do Festival Lula Livre, houve várias manifestações para cobrar justiça pelo assassinato brutal de Marielle Franco, que completaria 39 anos neste final de semana.
Os protestos também chamaram atenção para o combate à opressão contra o povo negro. O rappers Flavio Renegado, Dani Nega e o grupo Gotam Cru & Os Curingas trouxeram a cultura da periferia para o centro da festa. Heavy Baile e MC Carol abriram a pista para o funk. E o grupo de rap quilombola Realidade Negra mostrou com orgulho a marca da resistência dessa população.
“O Brasil que queremos é feito por lideranças pretas e pelo fim do genocídio e da intervenção militar”, completaram Caio Prado e os integrantes da Intrépida Trupe durante a homenagem à vereadora.
A luta pela justiça e a democracia reuniu lideranças de diversas frentes do campo progressista. Além das lideranças petistas, os deputados Jean Wyllys, Jandira Feghali, Chico Alencar, o pré-candidato pelo PSOL Guilherme Boulos e o ex-vereador Marcelo Freixo vieram prestigiar o evento.
Para Jean Wyllys, a iniciativa simboliza uma reação ao avanço fascista que se desenha em alguns setores da sociedade. “Essa é a primeira resposta, daremos outras. Precisamos estar unidos nessas duas causas importantes: descobrir quem matou Marielle e libertar Lula, que é um preso político”, apontou.
Antes da entrada dos medalhões, a nova safra da música brasileira fez a temperatura subir no Festival Lula Livre. Ana Cañas, Filipe Catto, Aíla, Caio Prado e banda Francisco El Hombre – uma das mais aplaudidas da festa – fizeram shows cheios de energia e trouxeram à tona o grito pelo fim do machismo, da homofobia e dos ataques à democracia.
“Eu vim aqui para cantar pela nossa alma que não tem cor, não tem gênero, que flutua acima de todo esse horror. É nessa alma que a gente tem que confiar. Porque a gente não é minoria. A gente é maioria, a maioria que sonha. Lula Livre!”, disse Filipe Catto no palco. “Um f*-se para o golpe”, completou na despedida.
A necessidade de erguer a voz deu o tom nas manifestações de Ana Cañas. “Lula é um preso político porque é o único que está preso. Temos que nos manifestar. Como diria Nina Simone: como eu posso ser uma artista e não refletir o meu tempo? É meu dever estar ao lado do Lula e dos valores que ele sempre representou.”
Por Thais Reis, da Agência PT de Notícias
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