Gasto com energia elétrica e gás de cozinha está devorando renda das famílias

Pesquisa inédita mostra que mais da metade das famílias deixa de comprar alimentos, roupas e sapatos para pagar conta de luz e comprar botijão

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Pesquisa do Ipec (Instituto Clima e Sociedade) mostra em números o que o brasileiro vem sentindo no bolso nos últimos anos. O salário (pra quem tem emprego) não dá mais conta de pagar as contas do mês. Alimentar-se e fechar o mês sem ser no vermelho, tornou-se um luxo. A pesquisa mostra que, devido aos sucessivos aumentos, principalmente os que ocorreram em 2021, as contas com energia elétrica e gás de cozinha estão corroendo boa parte do orçamento das famílias brasileiras. Enquanto isso, em fevereiro, compras de mercado representam mais de um terço das despesas (36%) das famílias das classes C e D.

Em novembro de 2021, o Ipec ouviu 2.002 brasileiros com mais de 16 anos de idade, de todas as regiões do país. De acordo com o que foi apurado,  40% da população brasileira deixa de comprar roupas, sapatos e eletrodomésticos para poder pagar as contas de gás e luz. Gastos com gás e energia elétrica já comprometem metade ou mais da renda de 46% das famílias, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.

Para 52% dos entrevistados, o preço do gás é o que mais pesa no bolso. Em todo o país, 22% da população reduziram a compra de alimentos básicos para continuar usando gás e energia elétrica. No Nordeste, o percentual sobe para 28%.

De volta para o passado

Assim como víamos no início dos anos 90, quando o Brasil sofria com constantes ameaças de apagão, os brasileiros estão adotando medidas de racionamento para não sentir tanto o peso da conta de luz. Quase metade dos entrevistados afirma ter adotado ações como tomar banho mais rápido e desligar as lâmpadas. Além disso, as manchetes de pessoas que se acidentam cozinhando com álcool porque não tem dinheiro para comprar gás de cozinha voltaram a tomar conta da imprensa brasileira. Um triste retrato do descaso do poder público.

O Auxílio Gás, oferecido hoje pelo governo federal é de R$52, sendo que o preço do botijão ultrapassa os R$ 100 na maior parte do país. Ou seja, o beneficio não é suficiente para dar conta do prejuízo. O monitor de preços do Observatório Social da Petrobras (OSP) apontou que o preço real do botijão de gás é o maior do século – 9% do salário mínimo, em setembro de 2021.

A energia elétrica passou por constantes e consecutivos aumentos no ano passado, acumulando alta de 25% em um único ano sob total inércia do governo federal. Soma-se a isso os mais de 14 milhões de desempregados e temos a matemática do caos que se abateu sobre o país.