Quem nunca se sentiu em menor número ao combater mentiras nas redes sociais? Isso acontece porque, do lado de lá, muitas vezes há robôs, automação e ações coordenadas em massa. Este cenário já é ruim e, não bastasse a lentidão das plataformas em eliminar essas distorções, agora também ficamos sabendo que elas lucram justamente com o que deveriam combater. Somente entre julho de 2018 e abril deste ano a Meta, empresa dona do Facebook, faturou R$ 158 milhões com contas falsas.
As informações estão em um levantamento feito pela revista de tecnologia Wired, que também apontou que parte desses perfis falsos espalhava desinformação online. O valor vinha das receitas de publicidade vinculadas a contas que acabaram sendo removidas, pelo próprio Facebook, por apresentarem “comportamento inautêntico coordenado” (CIB, na sigla em inglês). Ou seja, eram robôs.
A chefe de segurança da Meta, Margarita Franklin, afirmou à Wired que nem todo esse faturamento está ligado a publicidades que violaram as regras da plataforma, mas que as contas responsáveis por elas apresentaram comportamentos inautênticos. O Facebook considera “comportamento inautêntico” contas falsas ou duplicadas com a intenção de engajar determinados temas ou dar audiência a determinados assuntos artificialmente. Desde o ano passado, porém, a empresa passou também a relatar o que chama de “dano social coordenado”, que é quando contas falsas manipulam o debate público. Parece familiar?
O levantamento revelado na reportagem trata de ações publicitárias voltadas em sua maioria para usuários da rede social nos EUA, Ucrânia e México; e o Facebook apontou que as contas falsas eram, em sua maioria, russas.
Não é novidade o estrago causado pela manipulação do debate público por meio de ações coordenadas nas redes sociais, seja com robôs, seja com pessoas reais vítimas de estratégias sofisticadas de persuasão e desinformação. O escândalo da Cambridge Analytica mostra como o Facebook contribuiu para a corrosão da democracia em diversos países (até o nosso) e virou série na Netflix. Saber que as plataformas estão lucrando com o que deveriam combater é algo que, a essa altura, já deveria ser ficção. Temos um país para reconstruir.
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