O negOcionismo de Bolsonaro: cloroquina, ONU, crimes e cobaias humanas

O maior escândalo da medicina nacional revela que o presidente apoioi estudo com cobaias humanas. Juristas querer levar caso a Tribunal Internacional.

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A Globonews fez uma revelação chocante na última semana: o plano de saúde Prevent Senior, investigado pela CPI da Covid, atuou para ocultar mortes de pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina e azitromicina no tratamento da Covid-19. O estudo não regulamentado com cobaias humanas foi apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, que sempre defenderam as recomendações da empresa para o uso das drogas comprovadamente ineficazes contra a doença nas redes sociais.

Em documento enviado aos senadores da CPI, médicos da Prevent Senior denunciam que eram obrigados a entregar o chamado kit-Covid a pacientes, alterar o código de diagnóstico de dezenas deles – gerando subnotificação de óbitos – e omitir o número de mortos. Eles também informam que a disseminação da cloroquina e outras medicações foi resultado de um acordo entre o governo Bolsonaro e a empresa.

Em julho de 2021, ou seja, um ano e três meses após o início da pandemia no Brasil, Ministério da Saúde admitiu a ineficácia da cloroquina e outros medicamentos do kit-Covid no tratamento da doença. Na época, o Brasil já acumulava mais de 530 mil mortos, muitos resultantes da postura totalmente negacionista e inumana do presidente. O governo chegou a gastar cerca de R$ 84 milhões com medicamentos sem eficácia, entre gastos com fabricação, compra de medicamento, publicidade e divulgação – o suficiente para comprar 12, 2 milhões de doses da vacina.

Mesmo após a nota técnica, Bolsonaro segue propagandeando a mentirosa eficácia do kit covid. Em seu discurso vergonhoso na abertura da Assembleia Geral da ONU, na última terça (21), Bolsonaro defendeu o “tratamento precoce”, em meio a um mar de outras fake news. A passagem de Bolsonaro por Nova York foi marcada por denúncias, protestos, posturas grosseiras de figuras públicas e casos de covid na comitiva.

As ligações entre os Bolsonaro e a Prevent Senior são amplamente documentadas. O senador Flávio Bolsonaro, por exemplo, compartilhou no Twitter, em 5 e 19 de abril deste ano, tuítes do procurador da República Ailton Benedict defendendo a prescrição das medicações pela Prevent Senior. As publicações foram apagadas, assim como as que foram feitas por Carlos Bolsonaro, com teor parecido.

Recortes das redes sociais mostram ao menos seis vezes em que a família Bolsonaro advogou em prol do estudo da Prevent Senior


No mesmo mês, Bolsonaro fez uma live com os médicos Hélio Beltrão e Pedro Batista Jr, da Prevent Senior, para falar sobre tratamentos e a situação da pandemia no Brasil.

Esse é o maior escândalo da medicina nacional . Um grupo de juristas entregou um parecer à CPI da Covid, na semana passada, com indicação dos crimes cometidos por Bolsonaro na pandemia. O documento vai embasar um pedido de impeachment do presidente e uma ação no Tribunal Penal Internacional.

Os juristas citam crimes contra a saúde pública, a exemplo do charlatanismo infração de medida sanitária e epidemia; contra a administração pública, no caso, prevaricação; incitação ao crime por ações contra a paz pública; contra a humanidade, além de crime de responsabilidade.

Eles ressaltam a posição contrária de Bolsonaro às medidas restritivas e ao uso de máscaras, o negacionismo, o tratamento precoce, a tese da imunidade de rebanho, a falta de ação na crise de Manaus, a demora na compra das vacinas e as negociações com indícios de irregularidades no Ministério da Saúde.

Além do caso da Prevent Senior, cerca de 21 pacientes morreram após serem submetidos à nebulização com hidroxicloroquina em Manaus. A médica paulista responsável pelo “tratamento” usava o apoio de Bolsonaro para convencer as famílias.

Nesta segunda (20), reportagem do G1 revelou que paciente cardíaco sem teste de Covid morreu sem saber que era cobaia humana de Bolsonaro e da Prevent Senior. O nome de Rogério Antonio Ventura está em uma das 49.608 cédulas que compõem a planilha da empresa sobre o estudo. Ele é apenas o paciente “192”.

Rogério é um dos nove pacientes que morreram no experimento. Ele foi internado com mal estar, não recebeu o diagnóstico da Covid mas, mesmo assim, foi incluído no teste da cloroquina. Ele tinha problemas cardíacos, era hipertenso e apresentou um quadro de arritmia quando foi atendido. Rogério também fazia uso de várias medicações. Por causa desses fatores, ele não era indicado para receber cloroquina pelos riscos que o remédio pode provocar ao coração. A Prevent prescreveu a medicação duas vezes a ele em um mês, uma sem conhecimento do paciente e da família. Ele não passou por eletrocardiograma, que é uma exigência estabelecida no protocolo da própria Prevent quando há prescrição de cloroquina.

O relato da família confirma uma orientação dada pelo diretor da Prevent Senior, Fernando Oikawa, em uma mensagem enviada em grupos de aplicativos de mensagem de médicos da operadora. A mensagem era uma orientação para o início do protocolo de testagem da cloroquina. Há um alerta para “não informar o paciente ou familiar sobre o protocolo ou sobre a medicação”. A mensagem foi enviada no dia 26 de março, um dia antes de Rogério ter recebido as medicações.

Um vídeo reforça que o estudo da empresa com o kit Covid, com medicamentos ineficazes contra a Covid-19, era compartilhado  com conselheiros informais do presidente Jair Bolsonaro, que formariam o “gabinete paralelo da Covid”. A gravação foi publicada neste sábado (18) pelo portal Metrópoles. O virologista Paolo Zanotto, a imunologista Nise Yamaguchi e o anestesista Luciano Azevedo são são investigados pela CPI por aconselhar informalmente o presidente na gestão da pandemia, apoiando tratamentos não comprovados cientificamente. Um documento assinado por 15 médicos que afirmam ter trabalhado na Prevent Senior sustenta que o grupo não só conhecia, mas também acompanhava de perto das práticas ilegais da empresa.

Os interesses escusos de Bolsonaro vão ficando cada vez mais evidentes. Sua política genocida de negacionismo, demora proposital na compra de vacinas e promoção de remédios reconhecidamente ineficazes não apenas é criminosa, como tem motivações outras, que com certeza não é a vida da população brasileira.