Preservação ambiental vem junto com crescimento e emprego, dizem especialistas

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Em um encontro na manhã da última segunda-feira, 18, na Fundação Perseu Abramo, em São Paulo, um painel com ambientalistas e representantes de movimentos sociais apresentou propostas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para frear a devastação ambiental registrada ao longo do atual governo e mostrar que a preservação do meio ambiente pode ser acompanhada pelo crescimento e pela geração de empregos.

“A gente tem que fugir de uma armadilha. O pessoal costuma falar “ou emprego ou preservação”, mas a gente sabe que dá para juntar os dois. Temos milhões de hectares degradados que podem ser recuperados sem fazer devastação, sem roubo de madeira temos que nos preparar para capitanear um projeto de recuperação. O mundo inteiro busca uma solidariedade ambiental. Qualquer absurdo que seja cometido aqui contagia o planeta todo. Se a gente tiver bons projetos, não tenho dúvida que teremos uma boa participação internacional”, afirmou o senador Jaques Wagner, líder da Comissão de Meio Ambiente do Senado.

Para a secretária nacional de mulheres do PT, Anne Moura, um dos fatores mais importantes é realizar o chamado “pacto geracional”, atraindo jovens para a causa ambiental. “Eles serão os mais afetados pelas mudanças climáticas”, explicou a dirigente, nascida em Manaus. “Também precisamos combater a violência contra as populações que defendem seus territórios e contra os servidores que fazem a proteção ambiental. São muitos ataques, perdemos muitas lideranças dessa forma”.

A ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira afirmou que o país não tem mais tempo a perder. “Do ponto de vista político, precisamos acelerar a descarbonização, mostrar que é possível crescer lidando com desigualdades, e achar uma solução de crescimento e desenvolvimento com enfrentamento das desigualdades sociais. Precisamos de uma discussão sobre futuro, não é mais algo a ser negociado mais à frente”, alertou.

Ex-presidente do Ibama, Sueli Araújo ressaltou que os projetos que visem uma recuperação ambiental do Brasil não podem mirar apenas biomas ameaçados, mas incluir também as cidades: “É necessário ampliar o apoio federal aos transportes públicos, para ajudar na  redução das emissões. Também precisa aumentar a exigência da logística reversa para o setor industrial, a implementação da lei dos resíduos sólidos está muito lenta. Além de aumentar a meta de criação de áreas de proteção não só na Amazônia, mas em todos os biomas, na Mata Atlântica, no Cerrado e na Caatinga”.

Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede), “é Importante compreender demograficamente a Amazônia. Somos 28 milhões de pessoas, com dois terços vivendo em 10 a 12 cidades. Respondemos por 8% do PIB e podemos dobrar isso, mas é necessário inverter a lógica do “desenvolvimento x preservação”. Até hoje a Zona Franca Verde ainda não foi implementada, ela cria uma zona de beneficiamento de produtos da Amazônia para agregar valor.”

O ex-deputado federal Eron Bezerra (PC do B) citou como exemplo da economia verde que pode ser feita na região amazônica um programa local criado em governos do PT que gerava centenas de vagas de emprego e foi encerrado. “Tínhamos uma fábrica de ‘bacalhau da Amazônia’, fazendo a conserva de bacalhau à base de carne de pirarucu. Ela gerava 700 empregos diretos, foi feita com recursos federais e foi fechada”, contou.

Por sua vez, o deputado federal Zé Carlos (PV) falou sobre o garimpo ilegal na Amazônia, ressaltando a necessidade do Estado fazer uma maior vigilância na região. “Onde as pessoas sabem que tem ouro, elas vão. A lei do garimpo é antiga, precisa ser mudada. Ou a gente toma conta ou vamos ver toneladas de ouro sendo retiradas e traficadas ilegalmente, como acontece hoje”.

Na opinião de Alexandre Navarro, secretário da Fundação João Mangabeira (PSB), é essencial também conceder benefícios aos proprietários rurais que usem boas práticas ambientais em seus territórios. “É preciso bonificar quem cuida mais das suas terras e, ao mesmo tempo, punir quem planta soja e cria gado em áreas desmatadas. O que vemos nos últimos anos é que houve uma queda nas multas do Ibama e que o Código Florestal ainda não é aplicado da maneira correta”, criticou.

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