Pesquisas recentes e investigações, como a divulgada pela Agência Lupa, têm mostrado que o bolsonarismo tenta manipular a fé alheia para criar uma falsa “batalha espiritual” nas redes e atacar a esquerda. A suposta perseguição a cristãos é uma das mentiras usadas nessa estratégia. Com Bolsonaro, a politização da religião tomou proporções diferentes de eleições passadas. Ele se aproximou do público evangélico, estabeleceu relações com parlamentares evangélicos defensores de pautas conservadoras e travestiu sua campanha de jornada messiânica, que apenas adapta jargão evangélico sobre o país e o utiliza como slogan.
As fakes sobre perseguição a cristãos têm atingido milhões de pessoas através das redes sociais de influenciadores digitais, dentre eles estão tanto blogueiros, como os próprios pastores e parlamentares. Pesquisa da Casa Galileia mostrou que, entre janeiro e 21 de setembro deste ano, haviam 12,9 mil conteúdos sobre uma suposta guerra espiritual, enquanto os assuntos relacionados à ideologia de gênero somavam 7,8 mil e 1,8 mil peças desinformativas.
Na Câmara, são 183 deputados que compõem a Frente Parlamentar Evangélica. Na internet, também segundo pesquisa da Casa Galileia, comandada pelo antropólogo Flávio Conrado, 10 perfis de influenciadores foram responsáveis por mais de 180 milhões de interações em oito meses. Eles somam 105 milhões de seguidores nas plataformas YouTube, Instagram e Facebook.
Perseguição a cristãos é mentira tentar criar pânico em pessoas de fé
Nos discursos que são veiculados, a esquerda está sempre associada a planos conspiratórios contra as igrejas e as diferentes fés. Como havíamos mostrado aqui antes, entre agosto e setembro, as fake news religiosas contra Lula haviam aumentado mais de 1000%. Circulam com força as fake news de que igrejas seriam fechadas se Lula for eleito, que o comunismo seria implantado ou que Lula seria a favor do aborto e da “destituição” da família. A verdade é que o PT governou o Brasil durante 13 anos: nenhuma igreja foi fechada e nenhum cristão foi perseguido. Pelo contrário! Foi Lula quem sancionou a Lei da Liberdade Religiosa.
Na última semana, a Igreja Universal, do bispo Edir Macedo, também dono da TV Record, utilizou seu horário na TV aberta para fazer propaganda pelo voto em candidatos da direita e atacar Lula e a esquerda. Eles mentiram que a esquerda teria mais de mil projetos de lei contra a família. Isso é falso, além de infringir a Lei Eleitoral, que não permite propaganda em programas de televisão fora do Horário Eleitoral Gratuito.
Durante os governos do PT, inúmeras políticas sociais fortaleceram a família, como o próprio Bolsa Família, que completava a renda familiar para compra de alimentos para todos os membros e mantinha as crianças na escola, criando um ambiente familiar saudável.
As fake news, religiosas ou não, não têm lastro na realidade
Quem usa a boa fé dos cristãos para atacar a esquerda está buscando criar pânico moral, ou seja, alertar falsamente para situações em que crianças ou pessoas inocentes estariam em perigo. Pânico moral é uma estratégia de distração que consiste em criar um inimigo imaginário e associá-lo ao mal. Segundo a pesquisa, isso vem sendo retomado e alimenta a ideia de uma batalha espiritual na qual a esquerda, na visão desses grupos evangélicos, representaria o mal.
O levantamento retrata uma situação grave, em que o bolsonarismo sequestra temas caros às pessoas de boa fé para espalhar mentiras contra Lula, o PT e a esquerda. Como a revista Veja noticiou, um recorte da pesquisa Genial/Quaest mostrou que um terço dos evangélicos acredita que Lula irá fechar igrejas. A fake “pegou” para 43% dos eleitores de Bolsonaro e para 34% dos eleitores evangélicos. A mentira tem sido propagada há meses em cultos e apenas confirma a gravidade do tema.
Qualquer pessoa que já tenha se debruçado sobre a Bíblia sabe que a mentira é altamente condenável. Mas também está no livro sagrado: Falsos profetas não passarão aos olhos de Deus.