Volta da fome está associada a má gestão da economia e da pandemia pelo governo Bolsonaro

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A informação de que o Brasil andou para trás 30 anos e voltou a ter mais de 33 milhões de pessoas passando fome causou indignação generalizada, principalmente quando se sabe que o retrocesso em segurança alimentar é resultado da gestão desastrosa de Jair Bolsonaro na condução da política socioeconômica, que ignora as parcelas mais pobres da população, e no enfrentamento da pandemia do coronavírus, que já matou quase 670 mil brasileiros.

No estudo, a médica epidemiologista Ana Maria Segall diz que a pandemia surge no contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. “Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, declara Segall, que é pesquisadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), responsável pela pesquisa que teve execução do Instituto Vox Populi, apoio e parceria de entidades como Ação da Cidadania.

O material, que revela também que 58,7% da população convive com algum tipo de insegurança alimentar, resume que “a escalada da fome no Brasil está expressa em pratos cada vez mais vazios, olhares cada vez mais preocupados, e números em permanente e rápida ascensão”.

Renato Maluf, coordenador da Rede PENSSAN, pontua que as políticas públicas de combate à pobreza e à miséria que, entre 2004 e 2013, período dos governos petistas, reduziram a fome a apenas 4,2% dos lares brasileiros, já não fazem mais parte da nossa realidade. “As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”.

Fome maior no Norte e Nordeste

Os dados, que tiveram ampla divulgação dos veículos de imprensa, impressionam também por voltarem a revelar os muitos brasis da pobreza, com regiões mais penalizadas do que outras. Enquanto a fome atinge cerca de 15% da população total do país, na região Norte chega a 25,7% e, no Nordeste, a 21%. Na região Sul, é de aproximadamente 10%. Enquanto a insegurança alimentar é inferior a 59% na média nacional, no Norte supera 71% e no Nordeste é de 68%.

A pesquisa diz também que a insegurança alimentar é maior na zona rural, em lares sustentados por pretos e pardos e nas famílias chefiadas por mulheres.

Jornais responsabilizam governo

Veículos de imprensa também reconhecem a responsabilidade do atual presidente pelo retrocesso. Em editorial, O Estado de São Paulo diz que o nome de Jair Bolsonaro estará indelevelmente ligado à degradação da dignidade de milhões de seus governados, seja por sua comprovada incapacidade moral e administrativa para o cargo, seja por sua notória aversão ao trabalho.

“A fome já seria inadmissível, mesmo se fosse algo localizado; sendo verificada em larga escala, trata-se de uma atrocidade”, diz trecho do texto de opinião, que ressalta também que: “Bolsonaro e seus sócios do Centrão no Congresso abandonaram o país à própria sorte porque não estão interessados no bem-estar dos brasileiros, na exata medida de seus objetivos eleitoreiros. Por essa razão, há profunda desconexão entre as prioridades da atual cúpula do Estado e as da esmagadora maioria dos cidadãos – a começar pela mais primária delas, a de fazer três refeições por dia”.

Com título “Fome é marca nefasta do governo Bolsonaro”, editorial do jornal O Globo diz que a palavra que resume o governo Jair Bolsonaro é involução. “Sob seu comando, desde 2019, o Brasil retrocedeu em várias áreas. Uma das heranças mais nefastas que Bolsonaro nos deixará é a fome, um ataque ao direito fundamental às necessidades mais básicas.

O jornal diz ainda que as barbeiragens de Bolsonaro na economia, a falta de capacidade para tomar as melhores decisões nos piores momentos da pandemia e o desmonte de programas do Estado destinados a combater o problema, trouxeram o flagelo de volta.  O Globo finaliza o editorial dizendo que, se estivesse interessado em governar, Bolsonaro poderia ter evitado uma calamidade dessa magnitude. “Em vez disso, preferiu investir seu tempo em ataques à democracia, discursos cheios de grosserias, brigas intermináveis com inimigos imaginários e passeios de motocicleta. Enquanto isso, a população só quer viver uma vida digna, sem passar fome. Difícil imaginar retrocesso civilizatório maior”.