Celeiro das milícias digitais bolsonaristas, o YouTube está endurecendo as regras contra mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro. Em 22 de março, a empresa anunciou que irá proibir vídeos com acusações infundadas sobre fraude nas eleições de 2018. A plataforma também irá remover material que contenha alegações falsas de que as urnas eletrônicas brasileiras tenham sido hackeadas nas eleições presidencial e votos adulterados.
A empresa apoia a decisão no fato de que os resultados oficiais das eleições presidenciais de 2018 foram certificados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Por isso, estão sendo ampliadas diretrizes já existentes para combater conteúdos que promovam alegações falsas sobre fraudes, erros ou problemas técnicos generalizados que teriam influído no resultado eleitoral.
O controle do YouTube contra conteúdo mentiroso é um golpe no Gabinete do Ódio. A empresa não tinha política de remover conteúdo com acusações falsas de fraude eleitoral no Brasil em 2018 —a proibição de vídeos com alegações de irregularidades só valia para os Estados Unidos e Alemanha.
Levantamento do pesquisador Marcelo Alves, professor do Departamento de Comunicação da PUC do Rio mostra que o YouTube mantém no ar pelo menos 1.701 vídeos com ataques ao sistema eleitoral brasileiro e acusações infundadas de fraude nas urnas. Segundo o estudo, canais de notícias falsas como Pingos nos Is, com 15,7 milhões de visualizações, Folha Política (12,6 milhões), Jovem Pan News (2,5 milhões), Foco do Brasil (2,3 milhões) e Bolsonaro TV (2,2 milhões) acumulam visualizações propagando fake news sobre as urnas e o sistema eleitoral brasileiro.
Para o pesquisador, em entrevista para a Folha de S. Paulo, “a nova política do YouTube é um reconhecimento da gravidade da situação e um passo positivo na direção de se engajar em reduzir os potenciais impactos que o conteúdo criado e veiculado e plataforma podem ter”.
No final de fevereiro de 2022, o próprio Jair Bolsonaro voltou a atacar as urnas eletrônicas. Segundo o ex-capitão, que mente cerca de sete vezes por dia, em live transmitida pelas redes sociais, o Exército teria identificado “vulnerabilidades”, sem especificar quais seriam e ainda cobrou respostas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre a afirmação. A afirmação é uma mentira.
Segundo o estudo Desinformação On-Line e Contestação das Eleições, feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV), nos últimos 15 meses, foram feitas 394.370 postagens no Facebook sobre alegadas fraudes eleitorais, o que gerou mais de 111 milhões de interações. Ou seja, ao longo de 15 meses, os bolsonaristas postaram cerca de 888 posts por dia só sobre esse tema, o que equivale a mais de 1 post por minuto.
Entre as contas que concentram grande parte das interações nas postagens no Facebook sobre fraude nas urnas e voto impresso estão nomes ligados à cúpula bolsonarista e já citados com membros do braço político das milícias digitais como os deputados Carla Zambelli (PSL), Bia Kicis (PSL-DF), Filipe Barros (PSL-PR), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carlos Jordy (PSL-RJ) e o próprio presidente Jair Bolsonaro.
Em janeiro, membros do TSE reuniram-se com representantes do Twitter, TikTok, Facebook, WhatsApp, Google, Instagram, YouTube e Kwai para fechar acordo com objetivo de combater a desinformação nas eleições de 2022.
Por meio destes termos de compromisso, que são válidos até o dia 31 de dezembro deste ano, o TSE pretende desenvolver ações para coibir ou neutralizar a disseminação de notícias falsas no ambiente digital.
Pesquisa Datafolha divulgada no dia 26 de março revela que 51% dos brasileiros concordam com a suspensão de aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram, caso descumpram decisões judiciais para evitar disseminação de notícias falsas.
Algumas ações já parecem ter resultado. Em dois meses, o Facebook, por exemplo, marcou 2,8 milhões de postagens como falsas ou duvidosas. Todas com um alerta que leva quem está lendo direto para a página da Justiça Eleitoral. Lá o usuário encontra desmentidos, checagem de informações falsas sobre o processo eleitoral.
Há ainda a polêmica da falta de diálogo do tribunal eleitoral brasileiro com o Telegram . O aplicativo ficou meses sem dar resposta formal ao Superior Tribunal Federal (STF). Por conta do não cumprimento das determinações da corte superiora brasileira, o ministro Alexandre de Moraes bloqueou o serviço foi bloqueado no último dia 18 e pemaneceu assim até cumprir todas determinações da Justiça brasileira.
O Telegram assinou em 25 de março o termo de adesão ao Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação no Âmbito da Justiça Eleitoral, promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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