O Núcleo de Inteligência e Pesquisas do Procon-SP informou que a cesta básica no estado já passou o valor do salário mínimo. No mês de maio de 2022, em São Paulo, uma cesta básica saía por R$ 1.226,12, enquanto o salário mínimo é de R$ 1.212 – são R$ 14,12 a mais.
Os itens de higiene pessoal e alimentação foram os que mais puxaram a alta de 1,36% em relação a abril deste ano. No acumulado de 12 meses, a inflação dos produtos básicos pesquisados pelo Dieese passa dos 18% – muito além da inflação oficial, que ficou perto de 12% em maio.
A inflação galopante no Brasil faz lembrar as décadas de 80 e 90, um passado que muitos brasileiros pensavam ter sido enterrado. A política econômica desastrosa de Bolsonaro e Paulo Guedes tem sido incapaz de conter o avanço da inflação, que devora o poder de compra do consumidor e eleva os preços de itens essenciais para a vida, como alimentos e combustíveis.
A título de comparação, usamos a mesma base de dados do Dieese para recuperar o preço das cestas básicas em 2006 (R$ 172,31), 2010 (R$ 249,06) e 2014 (R$ 354,63), no estado de São Paulo, no mês de junho. Calculando a relação com os salários mínimos da época, era possível comprar 2,03 cestas em 2006 (quando o salário mínimo era R$ 350), 2,04 cestas em 2010 (R$ 510) e em 2014 (R$ 724). Em 2022, o salário mínimo não compra uma cesta básica sequer.
A inflação alta, por exemplo, fez aumentar o número dos brasileiros que têm hoje a carne vermelha como item de luxo no prato. Por conta da subida de preços dos últimos três meses, 55% deixaram de comprar carne vermelha e 44% não colocaram combustível no tanque, segundo dados da FSB para o mês de junho.
A queda no consumo da carne vermelha pelo aumento de preço afetou mais as mulheres (62%) do que os homens (48%) e de forma mais intensa quem conta apenas com o ensino fundamental (65%) em comparação a quem tem o ensino médio e superior (49%). Fica claro como o problema afeta mais as populações que já são mais vulneráveis e aprofunda as desigualdades existentes no Brasil.
Dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil divulgados no começo neste mês mostram que o Brasil soma atualmente cerca de 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer diariamente – 14 milhões de pessoas a mais de 2020.
E o preço alto dos combustíveis também tem impacto negativo no preço dos alimentos por causa da questão do transporte. Além disso, atrapalha a vida das famílias brasileiras que dependem do carro para se locomover e para trabalhar, e também daquelas que usam o transporte público.
Sabendo de toda essa situação, os gastos excessivos de Bolsonaro no cartão corporativo geram ainda mais revolta. O presidente tem extrapolado nas despesas desde 2019, quando assumiu. Ele impôs sigilo de 100 anos sobre a natureza desses gastos, mas podemos observá-lo sempre bancando motociatas e passeios de jet-skis com seus apoiadores. Bolsonaro deveria estar trabalhando para solucionar os tantos problemas que ele mesmo criou para o Brasil, mas ele gosta mesmo é de gastar. E trabalha menos do que um estagiário, numa média de 3,5 horas por dia.
Não restam dúvidas de que o Brasil de hoje está muito pior. Há poucos anos, o País do futuro tinha finalmente encontrado um presente de crescimento e dignidade para o seu povo. Mas esse passado que a gente lembra com saudade pode ser resgatado com vontade política, comida na mesa, responsabilidade e humanidade. O Brasil voltará a sorrir.