A África entendeu que somos o melhor parceiro na agricultura, diz especialista da Embrapa

Compartilhar:

“A África entendeu que as nossas condições agroecológicas são muito parecidas, e a nossa cultura, inclusive, é muito parecida, eles entenderam que nós somos o melhor parceiro”. Marcio Porto, chefe da Secretaria de Relações Internacionais da Embrapa, conversou com o Instituto Lula durante o seminário “Novas abordagens unificadas para erradicar a fome na África até 2025″, que foi realizado entre 30 de junho e 1º de julho, na Etiópia. Na entrevista, que você pode assistir no vídeo abaixo, Marcio Porto fala sobre a cooperação agrícola entre Brasil e África, dos potenciais e desafios adiante.

Para Marcio, não existe segurança alimentar sustentável sem pesquisa tecnológica, já que os países que não pesquisam se tornam dependentes da importação de tecnologias. O continente africano está preparado para avançar na cooperação e a demanda já é grande. O grande volume da demanda por cooperação é atualmente o maior desafio da Embrapa na África. Para Marcio, o esforço vale a pena. O Brasil também tem o que aprender com a África. “O Brasil não pensa que está aqui para dar. O Brasil está aqui para cooperar”, conta.

Leia abaixo a transcrição da entrevista na íntegra:
Como a pesquisa da Embrapa pode apoiar a luta contra a fome?
Sem pesquisa, não existe segurança alimentar. Ou pelo menos [não existe] segurança alimentar sustentável, porque a produção de alimentos evolui, as técnicas de produção de alimentos evoluem, na ciência. Os países que não produzirem suas próprias técnicas de produção de alimentos vão ficar importando a tecnologia de outros, e os outros só mandam aquilo que querem. Então é importantíssimo para a segurança alimentar que haja pesquisa adaptada aos locais, aos biomas onde estão as pessoas.

O continente africano está preparado para realizar esses trabalhos?
Eu acho que a África está preparada para isso. E eu vejo que está preparada pela demanda que existe pelo conhecimento da Embrapa. O problema da África é o direcionamento dos recursos. Talvez um país com poucos recursos ache melhor investir em outra área, mas nós esperamos que com essa mensagem massiva de vontade política que o presidente Lula está trazendo, que nós todos estamos trazendo, os governantes se convençam que realmente vale a pena investir em pesquisa. Mas para que a luta contra a fome vença, tem que ter pesquisa, tem que ter conhecimento.

Quais os primeiros desafios enfrentados pela Embrapa?
O desafio é o volume. O volume da demanda. Como a África entendeu que as nossas condições agroecológicas são muito parecidas, e a nossa cultura, inclusive, é muito parecida, eles entenderam que nós somos o melhor parceiro. Então a demanda está chegando com muita força. Essa demanda chega principalmente pela ABC, que é a Agência Brasileira de Cooperação, com a qual nós cooperamos. Nós atuamos com a ABC como braço técnico da política externa para a África. Então há muita demanda, nós temos uma equipe limitada no Brasil. São muitos pesquisadores, mas a demanda é muito grande. Então o desafio é como realizar esta cooperação sem prejudicar a pesquisa no Brasil. Eu penso que vale a pena, porque trabalhar aqui para um trabalhador brasileiro não é perda de tempo, é ganho de conhecimento. E tem inclusive tecnologias africanas que podem ser aproveitadas pelo Brasil. O Brasil não pensa que está aqui para dar. O Brasil está aqui para cooperar. É difícil você sempre receber, né? Você se coloque no lugar de um africano, que toda sua vida tem recebido. Imagine o alegre que ele fica quando ele aprende que tem alguma coisa para dar. Essa é a cooperação.

O Instituto Lula publicou uma série de seis vídeos com entrevistas de personalidades que participaram do encontro. A série mostrará entrevistas sobre o combate à fome na África com:
1. Marcio Porto, chefe da Secretaria de Relações Internacionais da Embrapa
2. Tereza Campello, Ministra do Desenvolvimento Social
3. João Bosco Monte, professor da Universidade de Fortaleza
4. Afonso Pedro Canga, Ministro de Agricultura de Angola
5. Tumusiime Rhoda Peace, representante da Comissão da União Africana (AUC) para Economia Rural e Agricultura
6. Mahaman Elhadji Ousmane, Ministro do Desenvolvimento e da Pecuária do Níger

Saiba mais sobre o encontro “Novas abordagens unificadas para erradicar a fome na África até 2025? no hotsite que o Instituto Lula preparou sobre o seminário: africa.institutolula.org