Em ano de eleições, há políticos que parecem acreditar que o povo não tem memória, ou, pelo menos, contar realmente com isso. Anos de vida pública são ignorados, posições defendidas há anos são esquecidas e declarações são dadas ao sabor do momento, sem o menor compromisso com a confiança que os eleitores e as eleitoras depositam na hora do voto.
O caso de Jair Bolsonaro com o Bolsa Família é um exemplo evidente da falta de respeito com a verdade e com milhões de brasileiros e brasileiras historicamente negligenciados pelas políticas públicas e beneficiados por um programa que é referência no mundo no combate à desigualdade e na distribuição de riqueza.
“Se tem alguém que criticou o Bolsa Família e, de certa maneira, humilhou os seus beneficiários ao longo dos últimos 10 anos foi o meu adversário. Não é fake news, basta ver na internet as frases que ele pronuncia sobre nordestinos que recebem o Bolsa Família”, lembrou o candidato da coligação O Povo Feliz de Novo, Fernando Haddad, nesta semana.
O que explica que alguém, que antes dizia que o programa era uma “mentira”, resolva, em momento mais do que conveniente, simplesmente mudar de lado e começar a falar em instituir um 13° salário para os beneficiários? O próprio Bolsonaro deu a resposta em agosto do ano passado: “Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família, então vote em outro candidato. Não vou partir para a demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto”, afirmou. Foi exatamente o que ele fez.
Um vídeo que circula nas redes sociais deixa evidente a “memória curta” do deputado, que já defendeu o fim do programa, ao lembrar da seguinte fala: “O Bolsa Família é uma mentira, você não consegue uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa, porque, se for trabalhar, perde o Bolsa Família”. Quando a opinião se tornou inconveniente para buscar votos, o discurso mudou totalmente: “Falar em tirar o Bolsa Família é um ato de desumanidade”.
Afinal, de que lado está Bolsonaro? Qual dessas frases entra na categoria do que ele realmente pensa e qual é a fake news criada para conseguir votos? “Basta ver na internet as frases que ele pronunciava sobre nordestinos que recebiam o Bolsa Família. Depois de 15 anos batendo no programa, agora ele quer dar um cavalo de pau e dizer que defende os pobres“, acusou Haddad.
Até o momento em que passou a achar que precisava de votos, Bolsonaro sempre demonstrou completa ignorância sobre o programa e repetiu aos quatro ventos velhos preconceitos que já eram combatidos por Lula desde a criação do programa. Já naquela época, inclusive, o deputado se orgulhava de ter sido o único deputado a votar contra o Fundo de Combate à Pobreza em 2000, quando ainda era do PPB, partido de Paulo Maluf.
Diante do sucesso inquestionável do Bolsa Família, que já foi premiado internacionalmente e reconhecido até pela Organização das Nações Unidas e pelo Fundo Monetário Internacional, a elite brasileira e os grupos que sempre se colocaram como oposição ao programa tiveram que ceder e admitir que o Bolsa Família, concebido e implementado por Lula, é uma política pública de inclusão visionária e vitoriosa. Fatos são, efetivamente, a melhor arma para combater preconceitos e mentiras.
É algo que, por mais que tenha tentado, nem Bolsonaro conseguiu negar, e a tentativa de apagar seu passado e tentar iludir agora os eleitores e eleitoras só deixa isso claro. “Alguém tem alguma dúvida de que programas assistencialistas, como o Bolsa Família, que acostuma o homem à ociosidade, são um obstáculo para que se escolha um bom presidente?”, disse o candidato certa vez.
Obstáculo maior é a falta de compromisso com o povo e com as promessas de sua própria campanha, que o candidato mesmo parece desconhecer. Ao contrário do que Bolsonaro e sua equipe de campanha parecem acreditar, o povo tem na memória quem sempre esteve ao seu lado e nunca hesitou em defendê-lo. Com Haddad, o candidato de Lula, o compromisso com o Bolsa Família sempre foi nítido, e é por isso que ele pode garantir: vai reforçar os investimentos no programa Bolsa Família, incluindo aqueles que voltaram à pobreza com o golpe.
Até que ponto se pode confiar no que Bolsonaro diz ao tentar atrair votos? E como saber o que efetivamente faria se ganhasse a eleição? São respostas que qualquer eleitor ou eleitora pode conseguir numa pesquisa simples. Talvez seja por saber do passado que tem que o candidato do PSL tenha tanto medo de, em rede nacional, olhar nos olhos do povo e debater sua proposta para o Bolsa Família e para o Brasil.
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