O presidente que não gosta de trabalhar e mente sete vezes não sabe nem sequer em que país está vivendo. Sem resposta para justificar a tragédia que instaurou no Brasil com seu governo, Jair Bolsonaro resolveu negar que haja fome no Brasil. “Alguém já viu alguém pedindo um pão na porta, ali no caixa da padaria? Você não vê, pô”, disse ele em entrevista ao programa Pânico, na Jovem Pan.
Qualquer um que percorra as ruas das grandes cidades brasileiras vê cenas desesperadoras de famílias inteiras, mulheres e crianças vivendo sob passarelas, viadutos, em praças ou calçadas abarrotadas. Não há como negar o que está escancarado: o número de pessoas sem ter o mínimo para viver e que se veem em situação de rua aumenta a olho nu.
Apesar da ausência de dados oficiais, estima-se que o total de pessoas em situação de rua no Brasil era de aproximadamente 221.869, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em pesquisa publicada em março de 2020. Após o golpe de 2016, a população de desabrigados aumentou, pelo menos, 60,95%. Eram 137.849 contra os quase 222 mil de brasileiros na rua durante o governo Bolsonaro. A estimativa utiliza dados disponibilizados por 1.924 municípios via Censo do Sistema Único de Assistência Social (Censo Suas).
Como o presidente só sai às ruas para motociatas ou a caminho de suas férias, finge não ver o resultado dos sucessivos cortes em políticas públicas, no orçamento de programas habitacionais, a inflação impagável dos alimentos e a desvalorização do nosso dinheiro.
Assim sendo, não contente, no mesmo dia ele voltou a disparar sua nova forma de negacionismo no Ironberg Podcast, do fisiculturista Renato Cariani. “Eles não sabem a realidade, se existe gente faminta no Brasil ou não. O que a gente pode dizer, se for em qualquer padaria aqui não tem ninguém ali pedindo para você comprar um pão para ele, isso não existe. Eu falando isso eu estou perdendo votos, mas a verdade você não pode deixar de dizer.”
De fato, não se pode deixar de dizer a verdade. A fome avança e atinge 33,1 milhões de brasileiros. Em pouco mais de um ano, o número de pessoas que passam ao menos 24 horas sem ingerir nenhum alimento, no país, cresceu quase 50%, ou seja, mais 14 milhões de brasileiros passaram a conviver com a fome em suas casas.
Um retrato doloroso dessa situação inaceitável foi a ligação de um menino de apenas 11 anos que ligou para a polícia porque a família passa fome. A mãe de cinco filhos sobrevive de bicos e há três semanas não consegue comprar alimentos. A família passa fome, e há apenas água e fubá. Célia recebe o auxílio emergencial, mas acontece que só o auxílio não basta.s.
A verdade é que Jair Bolsonaro não faz a menor ideia, nem tem vontade de aprender a governar para o povo. Diante do legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lançou programas que tiraram 36 milhões da miséria e tiraram o Brasil do Mapa da Fome, Bolsonaro perde a compostura. Se no governo Lula todo mundo tomava café da manhã, almoçava e jantava, Jair dispara que “não tem filé mignon para todo mundo“. Só esquece de dizer que ele próprio já defendeu publicamente que para os filhos, os amigos e os ricos, tem filé sim, e não é pouco.
Enquanto essa tragédia se desenhava, Bolsonaro destinou R$ 375,9 milhões que deveriam ser utilizados por famílias de baixa renda para cobrir despesas com militares, que vão desde auxílio-moradia até sistema de lançamento de mísseis. O valor é o saldo remanescente do programa Bolsa Família, substituído pelo insuficiente Auxílio Brasil.
O programa de Bolsonaro é uma versão capenga do maior programa de inclusão social do mundo. Além de não parar em pé, o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 tem data para acabar, em dezembro. E isso o próprio presidente já admitiu, contrariando sua propaganda eleitoral.
Quando nega a fome, Bolsonaro diz que: “Quem por ventura está no mapa da fome pode se cadastrar, vai receber, não tem fila o Auxílio Brasil. São 20 milhões de famílias”. Mas o avanço da pobreza tem feito a demanda crescer cada vez mais. Desde abril, 350 mil família em situação de pobreza ou extrema pobreza têm cadastro aprovado por mês e aguardam para entrar no programa. O governo assume que não garante que todos serão atendidos até o fim do ano.
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