Brasileiros enfrentam desafios locais para construir escola sustentável na Libéria

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Na África, como os africanos. É assim que, há pouco mais de três meses, o jornalista paulista Vinícius Zanotti e o construtor Fábio Ivamoto Peetsaa estão vivendo na comunidade de Fendell, periferia da Monróvia, capital da Libéria, país do Oeste africano.

É ali que a dupla está construindo uma escola de bambu sustentável e de baixo custo para atender 300 jovens de três a 17 anos, que hoje estudam em uma estrutura bastante precária. Trata-se do Projeto Escola de Bambu, criado em 2010 e que agora começa a sair do papel.

Desde o final de janeiro, Vinícius e Fábio estão vivendo num galpão sem água e energia elétrica, ao lado da futura escola. O banho é tomado de cuia. As refeições são feitas de forma coletiva: todos sentam-se no chão ao redor de um prato comum, que é compartilhado por quem está presente. Os telefones, câmeras e computadores são carregados em uma bateria de carro adaptada com um inversor de energia – assim como  em muitos outros lugares da periferia e da zona rural de países africanos.

Junto com um grupo liberianos da comunidade de Fendell, os brasileiros trabalham de sol a sol para subir as estruturas de bambu, que serão preenchidas com tijolos adobe, feito com barro. “É um trabalho duríssimo, mas que está caminhando bem”, diz Vinicius, idealizador do projeto. “Já finalizamos as estruturas de bambu dos módulos 1 e 2. Na semana passada foi iniciada a do módulo três. Serão 12 no total, sendo que 10 servirão para salas de aula. E as demais serão banheiros, um escritório para os professores e o quarto de uma pessoa que cuida da atual escola”, completa. As obras devem terminar em julho.

Parceria valiosa
Matéria-prima abundante e barata na região, o bambu já é usado há tempos como matéria-prima para a construção na Libéria, principalmente na parte estrutural de galpões. “No entanto, ele se danificava rapidamente, pois ele era retirado com o facão e não recebia nenhum tipo de tratamento”, afirma Vinicius.

Na Escola de Bambu, a forma de ele ser colhida e manuseada foi modificada – ele passou a receber uma resina e a ser cortado com uma espécie de serra. O projeto, trouxe, ainda, outras duas inovações: um sistema hidráulico abastecido por um rio das proximidades e um gerador construído com ímãs e HD de computador quebrado e rodas de bicicleta.

Para que essas tecnologias fossem absorvidas pela população local, foi estabelecida uma parceria com o Centro Vocacional de Katata, equivalente a uma escola profissionalizante do Brasil. Eles acompanham todo o passo-a-passo da construção e, ao fim do processo estarão aptos a replicar as técnicas de construção. “A possibilidade de perpetuar a iniciativa é uma das premissas do projeto”, diz Vinicius.

“Na obra, as coisas vão muito bem e nos surpreendendo de forma positiva. Bastou montarmos uma estrutura de bambu para que dois dos jovens que constroem conosco aprendessem a técnica e começassem a fazer o módulo 2 e 3 sozinhos”, afirma Vinicius.

Para ele, os maiores desafios são externos à obra. Em pouco mais de três meses, os brasileiros já foram parados pelo menos 30 vezes pela polícia, ávida por cobrar propinas a qualquer custo, mesmo quando não há nenhum tipo de irregularidade. “Isso acaba atrasando o trabalho, pois sempre demanda uma longa negociação”, queixa-se o jornalista.

Alem disso, eles têm dificuldades de achar determinadas peças no mercado interno liberiano. O país praticamente não tem produção industrial própria e quase tudo é importado. “Quando o arquiteto André Dal’bó veio, no mês de março, trouxe 3.000 porcas. O preço no mercado liberiano era de 30 centavos de dólar por cada, com fabricação chinesa. Alto valor e péssimo produto. Também trouxemos cavadores. Aqui na Libéria eles não existem”, conta Vinicius.

Para saber mais sobre o projeto Escola de Bambu, conheça o site do projeto: escoladebambu.com
Ou leia as outras duas matérias publicadas sobre a iniciativa no site do Instituto Lula:
Jovens brasileiros pretendem transferir tecnologia de baixo custo para escola na Libéria
Após levantar recursos, jovens brasileiros vão construir escola de bambu na Libéria