A inflação galopante de Paulo Guedes e Bolsonaro tem obrigado a população brasileira a mudar seus hábitos de consumo, principalmente na alimentação. O que mais vem encarecendo nos últimos tempos são os alimentos, mais até do que os combustíveis. Não é à toa que a insegurança alimentar tenha subido tanto, fazendo o Brasil voltar ao Mapa da Fome e levando os consumidores a terem de optar por produtos de qualidade e valor nutricional inferior para ter o que servir à família. É impossível manter um cardápio saudável e diversificado com a desvalorização do salário mínimo. Em muitos estados, ele nem sequer dá conta de comprar uma cesta básica.
Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) mostram que, hoje, 33 milhões de brasileiros passam fome e 125 milhões – mais da metade de habitantes do Brasil – enfrentam algum grau de insegurança alimentar. Além disso, levantamento do Datafolha aponta que 85% dos entrevistados diminuíram o consumo de algum alimento em 2021. Desse total, 67% reduziram o consumo de carne vermelha.
Os subalimentos voltaram para a mesa das famílias brasileiras. A carne de boi, frango ou porco tem sido substituída por pés de galinha, mondongo, ossos de porco, pescoço, miúdos e outros cortes de terceira. O leite, hoje impagável, passou a ser substituído por soro de leite. A cada semana, pessoas indignadas publicam nas redes sociais fotos de mercado que vendem restos de queijo, pele de galinha ou sambiquira como “opções de oferta”.
Nem sempre fica nítido para quem compra o que se está colocando no carrinho. Nem sempre a imprensa trata a questão com a gravidade necessária. Não é que os produtos sejam mais uma dentre as possíveis opções para o consumidor nem oportunidades de ofertas imperdíveis. Em um país em que o salário mínimo nem sequer é suficiente para comprar uma cesta básica, muitas vezes esses substitutos são o único alimento possível para as famílias.
O antes renegado (ou usado como ração) feijão bandinha, agora é vendido em supermercados do Rio de Janeiro, assim como sacos de fragmento de arroz, carcaça de peixe e até pele de frango, que antes era descartada. Os açougues colocam placas inacreditáveis: “osso é vendido, não dado”.
A questão da insegurança alimentar é latente. Mais pobres em nutrientes, os substitutos até enganam a fome, mas não são as melhores opções para um cardápio variado e saudável. Voltamos a um passado terrível em que quem se senta à mesa é a miséria. Como bem resumiu a chef de cozinha Carmen Virgínia: “Eu me envergonho quando um jornalista me procura para dar opção de receitas com arroz fragmentado, feijão bandinha, osso, ovo. […] Me recuso a fazer esse papel! Não vou romantizar a miséria“.
O povo brasileiro lembra de um passado não tão distante, quando Lula e Dilma eram presidentes, em que a fartura estava diretamente ligada à dignidade. Em que o Brasil saiu do Mapa da Fome, e em que cada mãe de família tinha o que dar de comer a seus filhos. E o povo brasileiro quer esse passado de volta. Poder fazer um churrasco, uma feijoada ou uma bela refeição em família não é motivo para ostentação de alguns poucos, mas direito constitucional de todos e todas.
Não faz sentido o presidente que não trabalha e gasta milhões em dinheiro público lavar as mãos frente ao sofrimento do povo, que passa fome e não tem como fechar as contas do mês. O Brasil não aguenta mais o Bolsocaro.
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