A entrevista de Jair Bolsonaro à TV Record nesta quinta-feira (04/10) à noite serviu para atender a todos os interesses do candidato do PSL à presidência da República: ter um palanque para ele falar sozinho, fugir do debate na TV Globo, atacar o PT sem contraditório, e tentar, com isso evitar um segundo turno em que os eleitores possam finalmente conhecer e debater suas ideias e propostas. Ou a falta delas.
Como tem sido feito por seus seguidores nas redes sociais, Bolsonaro utilizou-se de “fake news” e informações distorcidas, especialmente contra Lula e Haddad.
Contando com palco livre para tentar mostrar uma faceta mais humana, sensível e afetiva, Bolsonaro não resistiu a destilar seus ataques de ódio ao Partido dos Trabalhadores e a tudo que o partido representa. O candidato do PSL chamou Haddad de “fantoche”, que “a esquerda sempre separou os brasileiros” e que o “o PT é um projeto que deu errado”.
Apresentando uma capacidade crescente para interpretação de papéis, Bolsonaro tentou passar uma imagem serena e afetuosa, no sentido de afastar as afirmações de que ele seria homofóbico, racista, machista ou preconceituoso.
Sobre as notícias falsas, o candidato do PSL disse que um ou outro seguidor seu pode extrapolar nas redes sociais. Tentando se eximir de responsabilidade nesse campo, contudo, afirmou que ele não tem como responder por cada pessoa. E que outras candidaturas é que se utilizam de “fake news” contra ele.
Nesse ponto, não precisamos ir muito longe para mostrar que não é verdade que Bolsonaro não se valha de notícias falsas contra outras candidaturas. Hoje mesmo, em entrevista a uma rádio de Pernambuco, o próprio Bolsonaro difundiu “fake news” a respeito do que ele chama de “kit gay”. Um ponto que já foi inúmeras vezes desmentido, uma informação falsa, mas que ele e seus seguidores insistem em utilizar para atacar o PT e Haddad.
Nesta quinta-feira mesmo (04/10), o jurídico da coligação “O Povo Feliz de Novo” ingressou junto ao Tribunal Superior Eleitoral com representação contra boatos e “fake news” divulgados nas redes sociais contra a campanha da coligação, o candidato Haddad, sua vice Manuela d’Ávila e o ex-presidente Lula.
Bolsa Família
A respeito das “fake news”, Bolsonaro também afirmou que tentam atribuir a ele o risco de acabar com o Bolsa Família e que isso é uma notícia falsa. Aqui, vale o registro para o leitor de que, quando o Congresso Nacional votou a proposta do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, que seria posteriormente um dos pilares do Fome Zero e depois do Bolsa Família, Bolsonaro votou contra. E afirmou orgulhar-se disso.
Sua justificativa, à época, foi de que isso aumentaria a CPMF (a chamada Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). O curioso é que seu homem na economia, Paulo Guedes, anunciou este mês que pretendia retornar com a CPMF, sendo publicamente rechaçado pelo próprio candidato.
Sobre a erradicação da pobreza, Bolsonaro chegou a dizer, em 2001, que o “combate à fome, à miséria e à violência deve ser exercido por meio de rígida política de controle de natalidade”. Não é difícil se encontrar, ainda, vídeos na Internet em que ele questiona e ataca o Bolsa Família.
Ou seja, o candidato mente sobre o tema. Assim como mente ao dizer que nas mídias da campanha não há notícias falsas, nem ataques a outros candidatos. Para fechar com chave de ouro o dia com mais ataques, o candidato passou boa parte da entrevista à Record valendo-se de informações distorcidas para atingir o PT, Haddad e Lula.