Desesperado, Bolsonaro usa PCC, Marcos Valério e qualquer coisa para tentar se salvar

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A vida não está fácil para o bolsonarismo. A menos de três meses das eleições, todas as previsões de recuperação de Bolsonaro nas pesquisas falharam. Ao contrário de 2018, quando o discurso de outsider da política e as fake news  “colaram”, dessa vez é preciso defender o indefensável. Desesperado, o homem que divulgou a cloroquina, recusou a vacina e afundou o país em morte, fome e inflação, está louco para se salvar. Tudo que o bolsonarismo mais quer é algo para desviar o foco do fracasso dessa gestão. E eis que a revista Veja, mais uma vez, se prestou ao serviço, divulgando com estardalhaço uma delação velha (de 2018) em que Marcos Valério alega, sem qualquer prova, existirem ligações entre PT, PCC e crime organizado.

Os filhotes de Bolsonaro, os mesmos que há décadas empregam em seus gabinetes, condecoram e batem palma para milicianos, foram ao delírio. Afinal, ganharam de graça uma munição para tentar emplacar essa fake news do tipo espelho: a que acusa Lula de algo que eles próprios fazem. Defensor declarado do armamentismo, o papai deles fez de tudo para facilitar a vida dos criminosos traficantes de armas, e conseguiu: Bolsonaro armou o PCC. Ao mudar decretos de compra e porte, temos agora verdadeiros arsenais comprados legalmente e desviados para o crime organizado.

O mesmo Bolsonaro, além de armar o tráfico, também levou o crime organizado, literalmente, para dentro do governo. Do que chamar o esquema de corrupção que coloca pastores para pedir propina em barras de ouro em troca de verba pública? Do que chamar o esquema do orçamento secreto, que destina emendas para parlamentares aliados realizarem compras superfaturadas em milhões de reais? 

Do que chamar um governo que negocia a compra de vacinas com valor 1.000% maior do que o anunciado pelo fabricante, ou que pede propina de 1 dólar por dose do imunizante? Do que chamar um governo em que o ministro do Meio Ambiente que libera carregamento de madeira ilegal ao mesmo tempo em que autoriza o massacre de comunidades indígenas? A lista é longa, triste, e as consequências desse assalto serão sentidas infelizmente por muitos anos ainda.    

O governo da criminalidade já está no poder. Não é o do PT

Temos no poder, portanto, um governo criminoso, especialista em disseminar fake news, desesperado para encontrar uma história que “cole”, para tentar escapar do tribunal popular das próximas eleições. No ano passado eles fizeram uma tentativa mal sucedida. Em 2021 a Record se esforçou para fabricar uma grande revelação com a “denúncia” da espanhola Cristina Seguí sobre uma suposta rede de narcotráfico financiada por partidos de esquerda da América Latina, Espanha e Portugal que financiariam o Foro de São Paulo. 

Ao mencionar FARC, Hugo Chavez, um tal ex-general Hugo Carvajal, Venezuela, PT e narcotráfico, a “denúncia” da influenciadora de extrema-direita espanhola, conhecida por divulgar fake news contra a esquerda e investigada por discurso de ódio, só fez dar munição ao bolsonarismo. Não havia verdade ali, apenas uma “cartela de bingo” de temas explosivos, feitos sob medida para tentar espalhar medo nos desavisados. Não deu em nada, mas é algo a que os bolsonaristas irão morrer abraçados replicando.

 

Eles farão de tudo para tentar afastar do debate público os fatos: esse governo trouxe a fome de volta, destruiu empregos, dilapidou o patrimônio público, silenciou diante de assediadores de mulheres, deixou o país refém do Centrão com o orçamento secreto, aparelhou a PF para não investigar sua família criminosa nem as denúncias de corrupção dessa gestão. Mesmo assim, teve o ex-ministro Milton Ribeiro preso por corrupção no MEC. Aliás, sob Bolsonaro, área da Educação se transformou em um antro de crimes, com escândalos como o das escolas fantasmas do FNDE com Ciro Nogueira, o esquema de propinas em barras de ouro cobradas por pastores, os kits de robótica superfaturados do aliado de Arthur Lira e muito mais. Este é o legado de destruição e morte que o bolsonarismo quer esconder reavivando falsas “bombas” contra o PT.

A “bomba” de agora terá o mesmo destino das anteriores. Por isso, é preciso colocá-la em perspectiva. Marcos Valério fez a delação em 2018 em busca de benefícios. Há quase dez anos, ele foi condenado por peculato, corrupção e lavagem de dinheiro no que a mídia chamou de “mensalão”, do PT e do PSDB. Valério, em tese, teria atuado para ambos os partidos.

Seu processo não foi anulado por falta de provas, sua condenação não foi revogada e ele não foi inocentado pela justiça. Porém, por ter cumprido 16% da pena, a legislação permite e ele foi autorizado, há dois meses, a passar do regime semi-aberto para o aberto. Como mora em Nova Lima (MG) e a cidade não tem albergue para presos nessa condição, e também por conta da pandemia, ele passa as noites em casa.

O estardalhaço bolsonarista irá continuar. Eduardo Bolsonaro fez um requerimento de convite (aceito pelos deputados) para que Marcos Valério compareça à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, no Congresso. Eles vão mascar esse chiclete velho até não poderem mais, vão fingir escândalo e vão aumentar ao máximo a história (tentando vincular a Lula todo o tipo de crime, desde tráfico de drogas em avião — coisa que acontece nos voos da FAB com Bolsonaro — até assassinato). Afinal, é o que resta a quem está acostumado a viver de afagar o crime organizado enquanto espalha fake news e desinformação.

O PT sofreu uma campanha permanente de difamação ao longo de todos os governos Lula e Dilma, lembremos. A revista Veja foi um baluarte disso e da disseminação de ódio e de preconceito de classe, até se perder em seu discurso elitista e golpista, descolado da realidade. Agora, tenta retomar a relevância perdida, usando as mesmas táticas de antes.  

Não vai dar em nada. Essa história é velha, as investigações já aconteceram, já foram concluídas. Os condenados já estão cumprindo suas penas. Os inocentes já estão livres. A vida pública e privada do ex-presidente Lula já foi devassada, em um espetáculo cruel, e nada foi encontrado.

Lula sofreu perseguição política e midiática, além de ser vítima de lawfare (quando há uso do sistema judiciário como arma política e jurídica) praticado pela Lava Jato. Lula acumula 25 vitórias judiciais, em absolutamente todos os processos que eram movidos contra ele. Entre as conclusões do escrutínio a que foi exposto, o próprio MPF reconheceu a comprovada inexistência de uma organização criminosa, entre outras inconsistências alegadas nas acusações derrubadas.

Lula passou 580 dias preso injustamente, sem nunca duvidar do restabelecimento da verdade. Também nunca buscou ou aceitou qualquer proposta de acordo, pois nada tinha a esconder ou barganhar. E a justiça se fez. Agora, é hora de olhar para o que importa de verdade.

Temos à nossa frente possivelmente o processo eleitoral mais importante desde a redemocratização. Sofremos na pele as consequências de deixar-nos levar por mentiras e desinformação. É hora de centrar forças no presente e no futuro. É hora de cuidar da vida de quem está morrendo de fome ou de bala. Temos um país para reconstruir.