Jovens serão o motor da revolução agrícola africana, aposta comissária da União Africana

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Em 2050, a população do continente africano será o dobro da atual. Serão 2,2 bilhões de pessoas, quase metade delas vivendo em zonas rurais. Na opinião de Rhoda Tumusiime, comissária para Economia Rural e Agricultura da União Africana, uma África mais próspera, moderna e livre da fome está nas mãos dos jovens que vivem no campo. “A agricultura tem o potencial de transformar a África. E nós enxergamos o fator demográfico como um motor para essa mudança”, afirmou Rhoda, durante as comemorações dos 50 anos da União Africana, em Adis Abeba (Etiópia).

“As estatísticas mostram que o continente africano terá ainda por muito tempo uma alta taxa de natalidade e uma população jovem. A maior parte dessas pessoas deverá viver em áreas rurais e continuarão dependendo diretamente da terra e da agricultura para sobreviverem. Mas teremos uma população rural com características diferentes da geração atual: muito jovem, vibrante, com mais acesso à educação, à informação e à tecnologia. Nosso futuro está nas mãos deles.”

A comissária afirmou que chegou a hora de o continente africano alcançar a segurança alimentar e nutricional. “Hoje, a África depende de ajuda externa para se alimentar. É preciso reverter essa situação. Temos o potencial de nos tornarmos o celeiro do mundo. Em 2063, quero ver uma África livre de fome”, disse Rhoda, em alusão ao ano em que a União Africana completará 100 anos.

CAADP: diretrizes traçadas
As diretrizes para essa transformação já foram traçadas em conjunto pelos países africanos. Em 2003, a União Africana elaborou o Programa Integrado de Desenvolvimento Agrícola (CAADP) da União Africana, um plano estratégico de longo prazo que tem como meta ajudar os países a alcançar maiores patamares de crescimento econômico por meio do desenvolvimento baseado na agricultura. Para tanto, governos africanos se comprometeram a aumentar o investimento público na agricultura, alcançando um mínimo de 10% dos orçamentos nacionais e aumentar a produtividade agrícola em, no mínimo, 6%.

Até agora, 30 nações assinaram o compromisso, sendo que Burkina Faso, Etiópia, Ghana, Guiné, Senegal, Maláui, Mali e Níger já atingiram a meta. “Não se trata apenas de uma questão financeira. Estamos falando de um comprometimento de longo prazo por parte dos governos. O que precisamos é focarmos em implementação de projetos”, explicou Rhoda.

Para a comissária da UA, os pequenos agricultores – principal força de trabalho do continente – devem ser priorizados. “É essencial que eles tenham acesso não só aos meios de produção, fertilizantes e sementes a preços acessíveis, mas também ao crédito, por meio de iniciativas de microcrédito, e ao mercado”.

A especialista reconheceu, no entanto, as dificuldades que existem pela frente. “Um fator que gera preocupações é que o setor agrícola africano hoje é dominado por pessoas com baixa ou nenhuma escolaridade. E, como vocês sabem, é difícil mudar a forma de agir desses agricultores tradicionais. Eles não querem aumentar a produtividade se não têm acesso ao mercado. Eles querem o mercado”, disse.

Na opinião da especialista, a industrialização do continente deve ter estar ligada ao setor agrícola. “Precisamos desenvolver uma cadeia de valor completa no setor agrícola, da produção ao processamento”.

Terras nas mãos de estrangeiros: ameaça ou oportunidade?
Ao ser perguntada sobre a questão da procura crescente de grandes lotes de terras africanas por governos e empresas estrangeiras, Rhoda respondeu que, dependendo de como a negociação é feita, pode ser uma ameaça ou uma oportunidade. “Antes de nascermos, havia uma corrida pelo ouro e agora há uma corrida por terras africanas. A terra africana é como ouro. Mas precisamos garantir que o nosso ouro seja vendido pelo preço que ele vale, que a gente saia ganhando com ele, que as relações sejam transparentes e que nossas capacidades sejam fortalecidas. Precisamos que os países sejam fortes na negociação”, afirma.

A comissária reconhece que a África precisa do investimento direto estrangeiro, da tecnologia e do desenvolvimento do agrobusiness. “Dependendo de como a negociação com outros países for feita, podemos ter uma situação ‘ganha-ganha’. Precisamos atingir a nossa segurança alimentar. A oferta de alimentos no mundo caiu e agora que temos diante de nós uma boa oportunidade de aumentar a produção, temos que saber tirar vantagem dela e não apenas criticar”, disse.

Para assistir à entrevista completa de Rhoda Tumusiime, comissária para Economia Rural e Agricultura da União Africana, acesse http://summits.au.int/en/video/Commissioner%20REA

Seminário de segurança alimentar em Adis Abeba
Dentro de um mês, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja à Etiópia. Nos dias 30 de junho e 1º de julho, a sede da União Africana abrigará o encontro de alto nível “Novos enfoques unificados para acabar a fome na África”, que está sendo organizado pela UA, FAO e pelo Instituto Lula.

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