Diante de um desemprego recorde e uma inflação que corrói a renda e leva milhares de brasileiros à situação de fome, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu a receita eficaz para consertar o país: incluir o pobre no orçamento. Em entrevista nessa terça (27) à Rádio Difusora de Goiás, Lula voltou a defender uma política econômica que olhe para os mais pobres e lamentou a volta da fome no Brasil, um mal que tinha sido extirpado do país nos governos do PT, mas que está sendo potencializado no governo Bolsonaro.
O ex-presidente lembrou que em 2014, após 12 de gestão federal petista, a ONU anunciou que o Brasil estava fora do mapa da fome. Agora, “nós não temos governo, nós não temos política de crescimento, política de desenvolvimento, política de geração de emprego. E isso é muito triste”, criticou.
Lula classificou como inaceitável a dificuldade que muitos brasileiros estão passando, sem condições sequer de comprar um botijão de gás para cozinhar. “Nós temos hoje o povo cozinhando em lata no meio da rua, não é aceitável! Enquanto ser humano, não é possível! A gente ver um país que tinha chegado à 6ª economia do mundo virar o que o Brasil etá virando…”, lamentou o ex-presidente.
No início de julho, um morador de Goiânia morreu depois de ter 50% do corpo queimado, quando tentava cozinhar com álcool, porque não tinha dinheiro para comprar um botijão de gás. Em algumas regiões do estado, o gás de cozinha chega a custar R$ 120.
São quase 15 milhões de brasileiros desempregados e 34 milhões de trabalhadores na informalidade, citou Lula na entrevista. “O povo tem que ter o direito de garantir o café da manhã, o pão com leite e manteiga, todo dia pro seu filho. O povo tem que garantir que seu filho vai almoçar, vai jantar. A gente tem que garantir que carne não é um privilégio de quem tem dinheiro. Carne é uma necessidade orgânica”, afirmou.
Lula ressaltou o contrassenso de o agronegócio viver o melhor momento da história ao mesmo tempo a fome volta a assolar o país. Ele fez um paralelo entre a fome e o agronegócio, o que definiu como uma contradição: “No ano em que o agronegócio vive o melhor momento da sua produção, da sua exportação, é o ano que a gente tem mais fome no Brasil. Ou seja, não é que falta alimento no Brasil. Falta dinheiro para as pessoas comprarem alimento.”
“Esse país não tem conserto, se a gente não cuidar do pobre. É o pobre que faz a economia crescer. Para que esse país tenha jeito, nós temos que colocar o povo pobre como prioridade máxima. O povo precisa comer e de emprego. O povo precisa ser respeitado na sua dignidade. O grande fazendeiro precisa de crédito, o grande empresário precisa de crédito, o grande lojista precisa de crédito, todo mundo precisa”, disse Lula.
O petista lembrou que nunca os trabalhadores foram tão bem tratados como no seu governo, o que não impediu os empresários de ganharem dinheiro. Ele lembrou que na sua gestão foram gerados 22 milhões de empregos de carteira assinada, que o salário mínimo teve 74% de aumento real acima da inflação, legalizou a situação trabalhista do empregado doméstico e garantiu a sustentabilidade do pequeno e médio agricultor familiar. “Quando o pobre tem emprego, quando ele tem salário, quando ele tem renda, ele não compra dólar, ele vai na venda comprar o que comer, ele vai numa loja comprar um chinelinho pro filho, um sapato…”