Militares mantinham rede de fake news para esconder como Bolsonaro destrói a Amazônia

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No ano em que o desmatamento da Amazônia cresceu 29%, um tenebroso recorde nos últimos dez anos segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a Meta, empresa que controla o Facebook, o Instagram e o WhatsApp, interrompeu pela primeira vez uma operação orquestrada de divulgação de mentiras focada em questões ambientais justamente aqui, no Brasil.

Oficiais do Exército Brasileiro foram identificados como os responsáveis por uma rede que operava como uma fábrica de fake news, páginas e perfis falsos para manipular o debate público entre 2020 e 2021. Disfarçadas entre belas fotos da Natureza e textos de grandes veículos de imprensa e do Greepeace, mentiras eram plantadas a fim de minimizar as denúncias e notícias negativas sobre mais desastrosa política ambiental da história brasileira.

Foram identificadas e deletadas 14 contas e nove páginas do Facebook, além de 39 perfis no Instagram que violaram as políticas da Meta sobre conteúdos falsos. E a empresa reforça: a força-tarefa foi criada em território brasileiro para influenciar o povo do nosso país. A operação é detalhada no primeiro Relatório Trimestral de Ameaças de 2022.

De agosto de 2018 a julho de 2021, a devastação do bioma aumentou 56,6% em relação aos três anos anteriores.

Em um primeiro momento, em 2020, o foco foi o de publicar memes sobre questões políticas e sociais, como a reforma agrária e a pandemia da covid-19. Após alguns meses e engajamento praticamente nulo, a história mudou.

O grupo conduzido pelos militares brasileiros começou então, já em 2021, a criar páginas que se passavam por Organizações Não Governamentais falsas ou ativistas ambientais para falar mais especificamente sobre a Amazônia. O principal assunto, revela o relatório, era minimizar o efeito do desmatamento, dando a entender que ele não seria tão ruim assim. Também foram usadas fotos falsas, geradas por computador, da região. O relatório não entra em detalhes, mas não surpreende diante da enxurrada de fake news ambientais divulgadas pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.

As publicações ainda criticavam os posicionamentos de ONGs legítimas que denunciava a anistia a criminosos ambientais e o desmantelamento da fiscalização pelo corte de recursos e redução de atuação os órgãos. A presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), para citar um exemplo, pediu demissão após ser alvo de denúncias nunca comprovadas publicadas no Twitter pelo então ministro Ricardo Salles.

“Encontramos essa rede como resultado de nossas investigações sobre suspeitas de ações coordenadas de conteúdos falsos na região. Apesar de as pessoas por trás disso tenham tentado esconder suas identidades, descobrimos que elas estão associadas ao Exército Brasileiro”, afirmou a Meta no relatório, sem revelar o nome dos responsáveis pela operação.

“Não podemos compartilhar muitos detalhes de como nossa investigação chegou aos militares. Quanto mais compartilhamos, mais essas redes conseguem se esconder. Usamos sinais técnicos e comportamentais”, disse ao Estadão Nathaniel Gleicher, chefe de política de segurança global do Facebook.

De acordo com a Meta, 1.170 pessoas seguiam uma ou mais das páginas derrubadas no Facebook, e cerca de 23.600 seguiam de um a três constas no Instagram.

Na última quarta (06), o Supremo Tribunal Federal (STF) adiou a conclusão do julgamento sobre a constitucionalidade de medidas tomadas pelo governo federal na área ambiental. A sessão foi suspensa por um pedido de vista do ministro André Mendonça. Única a se manifestar até o momento, a relatora Carmen Lúcia declarou o chamado estado de coisas inconstitucional em matéria ambiental, ou seja, reconheceu que medidas tomadas pelo governo federal em relação à matéria são inconstitucionais e justificam a intervenção do Judiciário. Não há data para a retomada do julgamento.

Durante os governos de Lula e do PT, o Brasil era exemplo da redução do desmatamento. Relatório da Onu de 2014 indicava o Brasil como o país que mais havia reduzido o desmatamento e a emissão de gases que causam o efeito estufa. O desmatamento da Amzônia Legal caiu 82% entre 2004 e 2014.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), em 2009, o Brasil apresentou a proposta voluntária mais ousada entre os países.: redução de 36,1% a 38,98% na emissão de gases do efeito estufa (principalmente os advindos do desmatamento da Amazônia) até 2020. Reafirmando sua liderança na questão climática, o Brasil visava induzir os países desenvolvidos não-signatários do protocolo de Kyoto a assumir a meta de 40% de redução da emissão de gás carbônico.

No final do ano passado, um estudo confirmou que os governos de Lula e do PT foram responsáveis não apenas por reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% mas também por promover a proteção ambiental.