Em vídeo que viralizou nas redes sociais, uma senhora segurando um punhado de ossos é, infelizmente, retrato da volta da fome ao Brasil. Ela culpa o presidente Bolsonaro pela volta da fome e da miséria. A idosa diz, ainda, que na época de Lula e Dilma era possível comer carne.
“Boa noite, pessoal. Eu tenho 73 anos e no governo de Dilma e Lula nós podíamos comer frango, nós podíamos comer carne, mas agora os velhos estão enfraquecendo tudo”, diz a idosa no vídeo que teria sido gravado em Vitória da Conquista, na Bahia. “Sai, satanás do inferno, volta para o inferno”.
Hoje, no Brasil, 19 milhões de pessoas passam fome, e 116 milhões estão em situação de insegurança alimentar. São quase 28 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza, segundo dados da FGV social. E as imagens de pessoas revirando lixo já não são raridade, assim como as manchetes que ensinam como substituir alimentos para enriquecer refeições, já que não é possível fazer o mesmo prato de antes.
Nos últimos dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia.
Uma pesquisa Datafolha divulgada em setembro do ano passado mostrou que 85% dos brasileiros reduziram o consumo de alimentos desde o início do ano, com destaque para carne de boi, arroz, feijão, frutas, legumes e pão. Essa redução é claro, atinge com mais força as pessoas mais pobres.
A inflação sobre alimentos e bebidas fechou o ano de 2021 em 7,94%. O consumo de carne vermelha no Brasil é o menor em 26 anos. E não é porque a população decidiu se tornar vegetariana, mas porque não existe dinheiro para comprar o item. Hoje, o preço médio da carne é de R$ 32 o quilo, impraticável para as famílias. O item teve aumento de 25% no ano passado, de acordo com o IBGE. Isso sem falar no botijão de gás, que já ultrapassou os R$100 em muitas regiões do país. A tarefa de alimentar-se no Brasil é hercúlea, ainda mais sem aumento real do salário mínimo.
A idosa que brada contra Bolsonaro com ossos nas mãos tem razão em sua revolta. Lula sempre fala sobre a importância do churrasquinho em seus discursos, não só pela carne, mas pelo convívio familiar, pelo prazer de reunir os amigos. Em um país tão machucado por inúmeras desgraças, até mesmo isso foi tirado de nós.
É mesmo revoltante pensar que, enquanto a população briga por ossos, restos de comida e gordura nos açougues, o presidente trabalha uma média de 3h10 diariamente, gasta R$ 30 milhões no cartão corporativo e, pior, come picanha que custa R$1.800 o quilo. É como se ele zombasse da dor do povo que não tem pão, não tem brioche, não tem carne, só tem osso.
Governos do PT e o combate à fome
Acabar com a fome sempre foi uma obsessão para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos primeiros atos de Lula, dez dias após sua posse, em 2003, foi promover uma viagem com uma comitiva de 30 ministros ao semiárido e à periferia do Recife. O objetivo era levar os formuladores de políticas públicas ao contato direto com a realidade da extrema pobreza, reiterando assim o foco no combate à fome. Em 2014, no governo de Dilma Rousseff, saímos do Mapa da Fome da ONU pela primeira vez na história.
Lula também retomou o Consea e criou o Programa Fome Zero, assim como o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA) e a assessoria especial na Presidência da República, além de um orçamento de R$ 1,8 bilhão destinado para ações do Fome Zero.
No primeiro ano, o Programa beneficiou 11 milhões de pessoas em 2.369 municípios concentrados especialmente no semiárido e nas regiões mais pobres do Nordeste. Outro legado do governo Lula foi a lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, que define o que o Brasil considera ser Segurança Alimentar e Nutricional. Isso foi um marco importante no combate à fome no País, pois garantiu que a segurança alimentar e nutricional se tornasse uma questão de Estado, não de governos.
A partir daí, o governo investiu em uma série de medidas que levaram o Brasil a vencer a fome. Essas medidas estavam baseadas em duas premissas: garantia de alimentos e garantia de renda. Dentre elas, programas de apoio a pequenos e médios agricultores, distribuição de terras a famílias de agricultores, reforço da merenda escolar com produtos da agricultura familiar, formação de estoque de alimentos para impedir disparada de preços, aumento real sistemático do salário mínimo, uso do Estado para estimular o desenvolvimento, mantendo a taxa de desemprego nos menores níveis da história, manutenção da inflação sob controle, programas de transferência de renda para as famílias mais vulneráveis, como o Bolsa Família.
O legado de Lula no combate à fome é reconhecido internacionalmente. Foi necessário um presidente que conhecia a fome na pele para que o Brasil pudesse alcançar esse objetivo, já que a cabeça pensa onde os pés pisam. Com Bolsonaro, a situação é oposta. Ele e sua família ostentam, viagens, mansões e churrascos caríssimos enquanto o povo não tem o que comer.