Tecla SAP: O que está por trás do discurso de Bolsonaro no 7 de Setembro

Ao falar de seu governo em cima do palanque, Jair mostrou que não vive no mesmo Brasil que o resto dos brasileiros. Desvendamos o que está por trás de seu discurso

Compartilhar:

Basta viver no Brasil para saber que a vida da gente não tem nada a ver com o mundo paralelo que o presidente Jair Bolsonaro descreve em cima dos palanques. A fome voltou, o salário cada dia compra menos, não tem emprego, não tem preservação ambiental, não tem investigação de escândalos de corrupção nem respeito pela vida.

Desde que Jair Bolsonaro entrou, a vida só piorou, mas o maior mentiroso da República subiu ao palanque em Brasília neste 7 de Setembro e fez um discurso sobre um Brasil que não é o mesmo em que a gente vive.

O que Bolsonaro disse: “O nosso objetivo: a liberdade eterna. Tenho certeza, mais que oxigênio, a nossa liberdade é essencial para a nossa vida”.

O que isso quer dizer: À frente de um governo e de uma família afundando em escândalos de corrupção, o que o Capitão Censura mais quer é garantir a liberdade eterna (a dos seus filhos, parentes e aliados investigados e a sua própria). Em certo sentido, o discurso de Bolsonaro em Brasília neste 7 de Setembro faz sentido: é porque seu modo de governar segue o mote do sem investigação, não tem corrupção.

O que Bolsonaro disse: “Hoje vocês têm um governo que defende a família”.

O que isso quer dizer: Jair Bolsonaro sempre deixou bem nítido qual é a família que ele defende. Inclusive em vídeo:  “Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”.

Como Bolsonaro disse no discurso em Brasília, sim, ele se preocupa com a sua própria família – e só. O presidente usa o cargo para blindar os filhos. Essa afirmação é do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que permitiu a interferência do presidente em investigações. Bolsonaro não move um dedo para melhorar a vida das 33 milhões de pessoas que passam fome no país, mas faz de tudo para esconder os mal feitos dos filhos.

O que Bolsonaro disse: “Demos uma nova vida a essa Esplanada dos Ministérios, com pessoas competentes, honradas e patriotas”.

O que isso quer dizer: Bolsonaro adora repetir essa mentira quando faz um discurso, e é isso que fez neste 7 de Setembro. A gestão desastrosa de titulares de diversas pastas é prova por si só de que a incompetência é um marco dos homens elencados por Bolsonaro são como ele: ruins de serviço. Não só ele alçou políticos a ministros para cumprir acordos políticos como alguns de seus indicados nem sequer puderam se manter após serem desmascarados por mentir no currículo.

Diversos ministros deixaram o governo em meio a escândalos de corrupção, como Milton Ribeiro. Pastas importantes como a Educação e a Saúde passaram por sucessivos ministros abertamente sem competência ou capacidade técnica para gestão. Ricardo Salles, ex-titular do Meio Ambiente, foi acusado em abril de 2021 de sabotar fiscalização ambiental e atrapalhar apurações da Polícia Federal.

O que Bolsonaro disse: “Veio uma pandemia, lamentamos as mortes”.

O que isso quer dizer: Fomos o país que pior respondeu à pandemia do novo coronavírus em todo o mundo. O governo jamais instituiu uma política nacional de isolamento social — e criou contendas públicas com governadores e prefeitos que o adotaram durante meses. Viramos o epicentro da pandemia, topo de ranking.

A falta de testagem em massa e a subnotificação de casos acompanharam a pandemia desde a confirmação dos primeiros casos, o que se agravou com um verdadeiro apagão de dados oficiais, que servia apenas para os fins negacionistas de quem queria dizer que tudo estava bem. 

Não havia respeito pela ciência, o presidente promovia aglomerações, incentivava o uso de remédios sem eficácia comprovada no tratamento da covid-19. O gabinete do ódio mentia, brincando com vidas. Enquanto o país agonizava, ele fazia troça com quem morria literalmente sem conseguir respirar.

A comparação da liberdade com o oxigênio é um espetáculo de crueldade e desprezo pela vida à parte. O presidente negacionista foi omisso durante a pandemia de covid-19 e jamais derramou uma lágrima pelas mais de 680 mil vítimas e incontáveis órfãos do coronavírus.

Faltaram testes, vacinas, caixão, e faltou também oxigênio. Enquanto pessoas eram enterradas sem direito a adeus, o presidente imitava pessoas com falta de ar e fazia piada com seus apoiadores.

O que Bolsonaro disse: “Um país […] que combate a corrupção para valer”.

O que isso quer dizer: Jair Bolsonaro gosta de repetir que no seu governo não tem corrupção, e sempre que uma denúncia é publicada pela imprensa a classifica como “covardia”. Nunca por lamentar as irregularidades, mas porque detesta que elas sejam divulgadas por jornalistas.

Graças ao sigilo de 100 anos, aos compulsivos afastamentos dos responsáveis pelas investigações e a uma decisão política de acobertar a corrupção. As prisões por corrupção realizadas pela Polícia Federal chegaram ao menor patamar em 14 anos no ano passado: queda de 44% em relação a 2020, segundo reportagem de O Estado de S. Paulo.