Na última semana, a internet brasileira viveu nova alta de menções às “urnas eletrônicas” segundo dados da ferramenta CrowdTangle, que permite monitorar as redes sociais. O motivo? As fábricas de fakes e likes e os robôs da milícia digital estão a pleno vapor espalhando mentiras. Interações envolvendo o equipamento apareceram 583 mil vezes em páginas, grupos públicos e perfis verificados na plataforma, o maior pico de 2022. Parte das publicações que circularam foram posts falsos que colocam em dúvida a segurança desses equipamentos.
Os três picos de menções às urnas eletrônicas de 2022, sendo o maior registrado na semana passada, ocorreram após o presidente Jair Bolsonaro disseminar fake news sobre o processo eleitoral brasileiros. Os picos ocorreram depois que Bolsonaro prometeu ficar de olho nas urnas, em 28 de janeiro, e disse que o Exército havia encontrado falhas nos equipamentos, em 10 de fevereiro. Além disso, o então presidente TSE, Luís Roberto Barroso, abriu a primeira sessão do ano do tribunal, em 1º de fevereiro, falando sobre a segurança das urnas.
Na prática, esses números traduzem aquele pesadelo diário. Entre uma conversa com o pessoal do futebol, a combinação da próxima festa ou do almoço em família do final de semana, aparecem elas. Em todo o seu esplendor mentiroso e forjado áudio, começamos a ser atacados por fake news que parecem saídas do fundo de um bueiro onde tentam jogar a nossa democracia. Às vésperas das eleições de outubro, o assunto favorito atualmente tem sido as urnas eletrônicas, os títulos de eleitor e o TSE, o Tribunal Superior Eleitoral. Nada é por acaso. Tudo seguindo uma cartilha internacional da indústria de fake news, sempre associada à extrema-direita, para enganar o eleitor.
O alerta é da jornalista e fundadora da Agência Lupa Cristina Tardáguila: “Os ataques ao TSE e às urnas eletrônicas seguem um cardápio que está sendo servido internacionalmente e não têm nenhuma relação com a maneira como se vota”. Como já denunciamos aqui no Verdade na Rede, com o gabinete do ódio à frente da milícia digital bolsonarista para promover ataques à democracia e ao processo eleitoral, houve um aumento de 440% no volume de fake news envolvendo as eleições, o Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seus ministros.
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Pode anotar: se já não recebeu, vai receber alguma denúncia sobre escândalos em eleições em outros países. E a jornalista explica os motivos em sua coluna no UOL. Analisando o recente caso francês, os dados da aliança de checadores “Objectif Désinfox”, que reuniu 23 meios de comunicação franceses, detectaram ao longo da campanha ao menos quatro grandes ondas tentando sabotar a confiança nas eleições e atacaram igualmente a urna eletrônica e o voto impresso com teorias da conspiração que inventam adulterações em uma ou no outro.
“Assim como aconteceu com os americanos em 2020 e com os franceses há poucas semanas, há uma enorme chance de você estar sendo manipulado de forma a começar a duvidar da lisura do processo eleitoral. É hora, portanto, de ser mais esperto. Não se cale frente à insanidade. Rebata a desinformação com dados!”, convoca a jornalista.
Fiel à nossa tarefa, o Verdade na Rede elencou, a seguir, vacinas para as cinco mentiras mais contadas no último mês. Nenhuma delas é nova, por isso fique atento: fake news é coisa que reaparece a toda hora com maquiagem diferente. Assim como as fakes sobre títulos explodiram às vésperas do prazo para regularização do título de eleitor, esse tipo de mentira vai certamente aparecer de novo pra infernizar a paz no seu grupo.
Conte abaixo quantas dessas baboseiras já chegaram no seu Zap e se surpreenda com a falta de criatividade de quem quer enganar você por meio de mentiras fajutas:
+ Como denunciar mentiras e fake news do bolsonarismo
1. Mentira: Houve fraudes em eleições anteriores
Essa é uma frase que adora pular da boca do presidente Jair Bolsonaro entre um gasto no cartão corporativo e outro. Desde que ganhou a eleição nas urnas, Jair diz, sem apresentar qualquer prova, que teria havido alguma irregularidade no pleito. E, usando pleitos diferentes, muitos robôs e pessoas de pouco caráter emitem de tempos em tempos “alertas” sobre fraudes no processo eleitoral. O roteiro é sempre o mesmo, fique atento! E a receita pode ou não incluir a mentira de que votos foram arbitrariamente anulados, a gosto do freguês.
A verdade direta e reta é que nunca houve fraude comprovada nas eleições brasileiras desde a adoção das urnas eletrônicas. O histórico de votações desde a adoção da urna eletrônica mostra que o sistema é confiável. A constatação não é apenas do TSE, que organiza as eleições, mas também de investigações do MPE (Ministério Público Eleitoral) e de estudos matemáticos e estatísticos independentes.
2. Urnas são falhas e precisam de auditoria
É mentira que urnas “precisam” de auditoria – elas já são auditadas! E isso não está em investigação! Não há, nos documentos divulgados por Bolsonaro sobre um suposto inquérito da Polícia Federal, qualquer conclusão que aponte para a insegurança das urnas eletrônicas ou para a possibilidade do processo de votação ter sido afetado.
Essas auditorias, aliás, não ocorrem em nenhuma “sala secreta” do TSE. Mesmo antes da soma dos votos de todas as urnas (totalização), assim que a votação de uma seção eleitoral é encerrada, é possível saber o resultado daquele local com base nas mesmas informações que chegam para o TSE. Esses dados ficam disponíveis no boletim de urna, documento público que traz o resultado da votação de cada urna eletrônica. São esses os resultados que são mandados ao TSE para totalização. “A apuração é feita de forma separada e automática em todas as urnas eletrônicas”, que ao fim da votação emitem o resultado da seção eleitoral, “impresso em cinco vias, para fins de publicação, distribuição e arquivamento”, explica a Corte.
Ao contrário do que dizem apoiadores do presidente, muitos usando dinheiro público para espalhar mentiras, os votos são contados automaticamente pelo TSE, que não é composto apenas por ministros do STF. Previsto na Constituição de 1988, o quadro de ministros efetivos tem sete vagas ocupadas por três representantes do STF, dois do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e dois advogados representantes da classe dos juristas. Há, ainda, cinco ministros substitutos, sendo dois do STF, dois do STJ e um representante do júri, além de duas vagas não preenchidas – uma do Supremo e uma do júri.
Um outro vídeo que circula bastante aborda falhas descobertas em urnas eletrônicas durante os Testes Públicos de Segurança (TPS) realizados pelo TSE em 2016 e 2017. O contexto original da gravação era justamente mostrar os resultados de um teste justamente identificar eventuais problemas no sistema eletrônico de votação para resolvê-los antes do pleito.
O que está no vídeo é justamente o que foi identificado e corrigido, e não uma denúncia ou ameaça atual. Nos testes de 2021, nenhum dos ataques foi capaz de ultrapassar os reforços na proteção das urnas e todos os peritos foram unânimes em afirmar que as eleições deste ano serão seguras.
Ah, e as urnas eletrônicas não estão na lista de produtos que necessitam de certificação do Inmetro, caso tenha visto isso em alguma live…
3. Mentira: Dispositivo ‘chupa cabra’ consegue transferir votos de um candidato para outro
Não é novidade, mas voltou a circular nos últimos dias dizendo que um dispositivo teria a capacidade de alterar os votos dados a um candidato e transferi-los para outro. Completamente falso! Não há comprovação da existência de um dispositivo capaz de fraudar as urnas eletrônicas. Como expôs o G1: A mensagem falsa circula na internet pelo menos desde 2016 e voltou a ser compartilhada em 2022.
O vídeo da vez, que mostra um cenário da eleição municipal de 2012 em São Paulo, é cheio de outras mentiras. Um homem alega que teria inserido um dispositivo – ao que tudo indica, criado por ele mesmo em casa – e um arquivo que não mostra nada, como comprovaram as agências de checagem.
“Os equipamentos de votação brasileiros só funcionam com pendrives específicos da Justiça Eleitoral. Se a urna for conectada a um dispositivo estranho, ela é automaticamente desligada. Além disso, ao contrário do que afirma o autor do vídeo, nunca foram comprovadas fraudes em urnas eletrônicas desde sua implementação, em 1996″, explica o Estadão.
E, não, também não dá para hackear por wi-fi por um motivo bem simples: as urnas não ficam conectadas à internet.
4. Mentira: Entrada USB e cartão de memória favorecem ataques, pois é fácil hackear o sistema eleitoral
Há um suposto hacker que tem circulado bastante alegando falhas no processo eletrônico de votação do Brasil durante uma conferência nos Estados Unidos. Ele alega ter conseguido acessar informações de eleitores nas eleições municipais de 2020, o que já foi negado pelo TSE. Segundo especialistas, ainda que o hacker tivesse conseguido acessar esses dados, seria impossível saber em quem um eleitor específico votou.
Por mais que haja, sim, tentativas de ataques, nenhum deles poderia ter adulterado o sistema das urnas eletrônicas. Conforme explicado pelo UOL, mesmo que conseguisse acesso a uma urna, o invasor teria de violar diversas barreiras de segurança, dispostas em camadas e programadas para bloquear automaticamente a urna a qualquer tentativa de ataque.
Da mesma família, há vários conteúdos alegando que seria possível infiltrar a urna pela porta USB em cada uma delas. Outra mentira.
Como o TSE explicou ao Estadão: “O software da urna é capaz de identificar cada dispositivo USB que é conectado a ela. Caso o software identifique um dispositivo diferente do pequeno conjunto válido, o software comanda o desligamento elétrico da porta USB em que o dispositivo se encontra conectado, impedindo que este faça qualquer coisa”.
“Isso quer dizer que a urna eletrônica só reconhece equipamentos USB autorizados pela Justiça Eleitoral. Ainda segundo o TSE, mesmo que invasores desenvolvessem um dispositivo que se passasse por um equipamento compatível com a urna, não seria possível colocar nenhum programa malicioso em execução. Isso porque o sistema operacional da urna só executa programas com ‘assinatura digital válida gerada na Cerimônia de Lacração e Assinatura Digital dos Sistemas Eleitorais’. Essa cerimônia ocorre antes das eleições e é acompanhada pelas entidades fiscalizadoras, o que inclui a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Ministério Público Eleitoral (MPE), as Forças Armadas e outras”, explica a reportagem.
5. Mentira: Votar só para um cargo e anular os demais invalida sua escolha
Essa história de “voto parcial” tem tudo para se tornar carta marcada entre a mentirada que vai ser distribuída por aí nos próximos meses. A fake news diz que se você, em outubro, escolher só o número do seu candidato à Presidência e votar em branco para governador, senador, deputado federal e deputado estadual, seu voto é anulado. O texto diz que a Justiça Eleitoral considera o voto como “parcial” e o anula, o que não é verdade.
Esse tipo de mensagem em tom de “aviso ou alerta” também não é novidade, e já tinha sido desmentido em 2018 pelo TSE, que elucidou que “o eleitor pode votar em um candidato, em branco ou nulo para o cargo que quiser, não há nenhuma restrição para isso”, e que “não existe a figura do ‘voto parcial’“. O voto só pode ser anulado, para cada cargo específico, pelo eleitor, caso digite números que não correspondam a nenhum partido ou candidato.
De acordo com a Lei das Eleições (9.504/1997), a urna eletrônica contabiliza o voto para cada cargo eletivo de forma independente (artigo 61), ou seja, a maneira como um cidadão vota para um cargo não interfere na validade dos outros votos. Caso você opte por não registrar voto em outros candidatos, aquele que você escolheu será contabilizado nos votos válidos. “Votos brancos e nulos são computados para fins estatísticos, mas não são considerados votos válidos”, explicou o Tribunal.
“Não existe ‘fake news grátis’ (se existem, estão cada vez mais raras). Por trás de cada uma das duas histórias é possível perceber um objetivo e um público a ser atingido”, explica o site Boatos.org. “Focada essencialmente em quem já vai votar em Bolsonaro (tanto que a história pululou em grupos a favor dele), ela nada mais é do que incentivo para que as pessoas votem em aliados do atual presidente. Não deve demorar muito para essas mesmas pessoas receberem listas de ‘candidatos recomendados por Bolsonaro’.”
Mentira brinde! Qualquer enquete substitui uma pesquisa eleitoral
Se você está na insalubre lista de pessoas que já foram bombardeadas com algumas das mentiras acima, deve estar recebendo a mais queridinha da safra atual: as fakes sobre pesquisas eleitorais. Vários políticos e celebridades associadas à extrema direita adoram compartilhar enquetes de redes sociais, pesquisas em restaurantes e qualquer simulacro de agrupamento de pessoas para dizer que Bolsonaro tem muito apelo popular e é boicotado pelas pesquisas.
Para começar, a principal diferença entre uma pesquisa eleitoral e uma simples enquete está na aplicação dos resultados. A pesquisa pode ser usada para inferir as intenções de voto de um universo maior (toda a população de um país, ou de uma dada região), enquanto a enquete só informa sobre as intenções daquele grupo específico que a respondeu — os resultados não podem ser extrapolados para a população em geral. Isso porque a pesquisa é feita com uma amostra cientificamente calculada da população, a fim de representar o grupo como um todo e eliminar vieses.
Um argumento comumente usado em publicações que desacreditam pesquisas eleitorais é que suas amostras são pequenas em comparação ao tamanho do eleitorado, de 147 milhões de brasileiros. De acordo com usuários, amostras de “apenas” mil ou 2 mil pessoas não seriam, portanto, confiáveis. Isso é um mito, aponta a seção “Escopo e metodologia das pesquisas” do site do Governo Federal.
Não compartilhe e siga denunciando!
Nas eleições deste ano, as fake news serão um veneno contra a qual temos de lutar com a melhor das armas: a verdade. A mentira foi instrumentalizada pelo governo Bolsonaro para se manter no poder, e se tornou um lucrativo negócio para alguns e um inferno para a maior parte da população mundial. Desde a eleição de Bolsonaro, o Brasil vive sob um regime de meias verdades. Bolsonaro promove e espalha mentiras como política oficial, ao invés de governar o Brasil, gerar emprego, renda, educação e garantir uma resposta responsável à covid-19.
Na luta pela defesa da verdade, a máxima é nunca compartilhar, nem com amigos, postagens visivelmente falsos. Qualquer publicação, mesmo que em tom de denúncia ou indignação, ajuda a aumentar a propagação desse tipo de mensagem, que visa confundir o debate sério e mudar o foco para a discussão que realmente importa. Ou seja, a sua denúncia acaba virando divulgação daquele conteúdo com que você não concorda. Então, para cada mentira, compartilhe uma verdade!
Lembre-se sempre que, por trás da desinformação, há sempre uma intenção política. É um jogo sujo que quer forçar a polarização e nos colocar contra aqueles com quem dividimos a mesa, o trabalho, o ônibus. Tentam promover a discórdia entre o povo para não ter de dar respostas efetivas sobre o que farão pelas principais necessidades do país.
O Verdade na Rede concentra as notícias e desmentidos já produzidos contra as fake news bolsonaristas. Busque a verdade, divulgue para seus familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, de igreja e vamos juntos pela Verdade!
O caminho para a verdade é simples e conta com o apoio da nossa equipe. Os passos são os seguintes:
1 – Viu uma mentira?
Não a divulgue, nem para seus amigos mais próximos. Bolsonaro quer nos afogar nas suas falsidades. Saia dessa. Respire fundo, entre em https://lula.com.br/verdadenarede/ e busque uma vacina para as fake news que não param de pingar nos seus grupos de zap.
É só ir no campo de busca e digitar uma palavra marcante da notícia falsa.
Responda a mentira com uma verdade. O nosso site reúne o material das agências de checagem e conteúdo próprio. É preciso desmontar os argumentos falsos e as narrativas fantasiosas do bolsonarismo. Ao responder à mentira, encaminhe uma das vacinas, aproveite e já envie algumas das realizações dos governos do PT para gerar um debate produtivo e sem briga.
2 – Não encontrou uma vacina?
Denuncie a fake news com a qual você se deparou. Você pode fazer isso em nosso site, clicando no botão vermelho DENUNCIE AQUI. Produziremos novas vacinas a partir das novas cepas do bolsovírus. Além disso, nosso time jurídico irá avaliar a sua denúncia e, se for necessário entraremos em contato para maiores informações.
3 – Como seguir informado?
É só se cadastrar em um dos nossos grupos de WhatsApp. Eles estão na página inicial do Verdade na Rede. Estaremos sempre de olho. Procurando as mentiras que circulam nas redes e em grupos de WhatsApp e Telegram e trazendo a verdade.
Além disso, os grupos também serão espaço para trocar informações e técnicas para eliminar as fake news. Seja um agente da verdade!
Vamos neutralizar o Bolsovírus e respirar os ares da democracia e da verdade. Vacine-se contra as fake news. Embarque no nosso mutirão!