Em entrevista ao jornal espanhol El País, publicada neste domingo (21), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que tem como causas a luta contra a desigualdade no Brasil e a criação de um mundo mais fraterno e solidário. Lula, que concluiu neste fim de semana uma agenda de 10 dias por quatro países da Europa, destacou que o Brasil, que já foi um protagonista internacional, mas andou para trás nos últimos anos e hoje sofre com uma estagnação econômica que provoca fome e miséria.
“Quando eu deixei a presidência, em 2010, o Brasil estava numa situação internacional e numa situação interna de crescimento econômico e de respeitabilidade muito grande. Tudo isso foi desmontado. A minha causa é a luta contra a desigualdade no Brasil e no mundo. Lutar para criar um mundo mais humano, mais fraterno, mais solidário, onde todo mundo tenha o seu elementar”, disse Lula.
Ao falar sobre a reconstrução do Brasil, ex-presidente disse que gostaria de ver o país de novo com prestígio internacional e com a população se alimentando três vezes ao dia. “Hoje temos mais desemprego e inflação. E a fome, que tinha acabado no Brasil, voltou com muita força. Se eu voltar para a presidência, não posso fazer menos do que fiz. Tenho que voltar para fazer o Brasil recuperar o seu prestígio internacional e que o povo possa comer três vezes ao dia”, afirmou ao jornal, ressaltando que hoje, no Brasil, terceiro maior produtor de alimentos no mundo, há 19 milhões de pessoas passando fome. “O mundo não pode continuar assim.”
Lula defendeu o programa Bolsa Família, destruído por Bolsonaro, explicando que esse era mais do que um auxílio, era uma política de Estado para inclusão social. “Mas não foi apenas o Bolsa Família que melhorou a situação do povo brasileiro. Nós tivemos um conjunto de políticas pública, precisamos repetir e repetir com muito mais força”, disse Lula, lembrando que, em 2008, no seu governo, o Brasil chegou a ser a sexta economia mundial. Hoje, ocupa a 13a. posição. “Tenho uma responsabilidade dobrada porque o meu Governo é considerado o melhor Governo que já aconteceu no Brasil, foi o melhor momento de inclusão social, de inclusão nas universidades, de aumento de salário e geração de emprego,”.
Sem vingança
Questionado pelo El Pais se tem sentimento de vingança por ter sido preso político e afastado injustamente das eleições de 2018, quando liderava as pesquisas, Lula disse que não, que ninguém pode querer governar para se vingar, mas ressaltou que, se se candidatasse novamente, seria para tentar resolver os problemas do povo brasileiro. “Fui para a cadeia, eu li muito, refleti e pensei: “Não posso sair daqui com raiva. Preciso sair mais maduro, mais consciente, mais preparado”. Eu estava dizendo a verdade e eles estavam mentindo”, relatou, explicando sua motivação: “A única razão pela qual posso ser candidato, e agradeço a Deus estar vivo e com saúde, é porque tenho consciência de que posso ajudar o povo pobre do país. Posso ajudá-lo a trabalhar, a comer e a ir para a universidade. Já fizemos isso.”
Viagem a Europa: assista ao vídeo com o resumo: Vídeo: Ricardo Stuckert
O ex-presidente Lula terminou na Espanha a viagem pela Europa, que teve início dia 11 de novembro, pela Alemanha. Lula teve uma série de encontros com lideranças europeias nesse período. Na Alemanha, se reuniu com o Olaf Scholz, vencedor das eleições alemãs que deverá substituir Angela Merkel; com Martin Schulz, ex-presidente do Parlamento Europeu, liderança do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha e presidente da Fundação Friedrich Ebert; e com as deputadas do SPD Yasmin Fahimi e Isabel Cademartori, eleitas na última eleição alemã, vencida pelo SPD, em setembro, entre outras lideranças políticas.
Lula teve também teve encontro com lideranças sindicais do país, como a secretária-geral da Confederação Sindical Internacional (ITUC da sigla em inglês), Sharan Leslie Burrow, e discutiu os desafios de organização da classe trabalhadora no Brasil e no mundo.
Na Bélgica, a partir do dia 13, o ex-presidente participou da Reunião de Alto Nível no plenário do Parlamento Europeu, onde discursou e foi aplaudido de pé pelos eurodeputados. O evento, intitulado Juntos durante a crise para uma nova agenda progressista, reuniu líderes da Europa e da América Latina para discutir como o mundo pode sair mais forte da pandemia a partir de uma agenda progressista.
Lula também se reuniu com o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrel; com José Luis Rodríguez Zapatero , ex-primeiro-ministro da Espanha; com o economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia; e com a líder do bloco social democrata no Parlamento, Iratxe García Pérez. Teve reuniões com os eurodeputados do Bloco Social Democrata no Parlamento Europeu.
Já na França, a partir do dia 16, Lula foi recebido pelo presidente Emmanuel Macron. No encontro, de mais de uma hora, Lula e o presidente francês dialogaram sobre a crise mundial, geração de empregos, redução das desigualdades e proteção ambiental. Lula também teve agenda com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo; com o ex-presidente da França, François Hollande e com o Jean-Luc Mélenchon, ex-candidato à presidência da França e líder do movimento França Insubmissa.
Também na França, Lula foi homenageado mais uma vez pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), dez anos após receber o título Doutor Honoris Causa. No Sciences Po, o ex-presidente discursou sobre “Qual o lugar do Brasil no mundo de amanhã?”. Na capital francesa Lula também recebeu o prêmio Coragem Política 2021, concedido pela revista Politique Internationale por sua gestão “marcada pelo desejo de promover a igualdade” na Presidência da República.
Na Espanha, a partir do dia 18, Lula esteve com o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, no Palácio da Moncloa, e com a vice-presidente, Yolanda Díaz. Na capital espanhola, Lula participou do seminário “Cooperação multilateral e recuperação regional pós-Covid-19” e do ato “Construir o Futuro”. O ex-presidente também teve encontros as federações sindicais da Espanha.