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Fome, a palavra que Bolsonaro ignora enquanto o povo revira caminhão de lixo

“Quem inventou a fome são os que comem”, essa é uma das frases mais famosas da obra Quarto de Despejo,  de Maria Carolina de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do Brasil, moradora da comunidade de Canindé (SP) e catadora de papeis. O livro foi publicado em 1958, mas infelizmente é um retrato fiel das desigualdades sociais que são a cara do Brasil de 2021. Fotos e vídeos de pessoas revirando lixo em busca de alimentos ocupam as redes sociais, enquanto o presidente Jair Bolsonaro ignora solenemente a fome e tudo que a ela se relaciona.

Moradores coletam comida em caminhão de lixo em Fortaleza

Desde que se tornou presidente da República, a única vez que Bolsonaro falou sobre a fome no twitter foi para falar sobre um jogo de futebol que participaria, parte da campanha “Natal sem Fome”, em dezembro de 2020. Vale lembrar da onipresença de Bolsonaro nas redes sociais: suas contas são muito ativas, ele faz lives todas as quintas-feiras e usa as redes para espalhar todo o tipo de inverdades. Mas sobre a fome, Bolsonaro jamais falou. Bolsonaro nunca passou fome e não se importa com quem não come. Enquanto pessoas ficam horas na fila para receber doações de ossos (que já passaram a ser vendidos, e não doados, inclusive), Bolsonaro faz churrasco com picanha de R$ 1800 no Palácio do Planalto.

A fome no Brasil

“A fome não é um fenômeno da Natureza. A fome é falta de vergonha na cara de quem governa esse país”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista a rádio de Mato Grosso do Sul. Em seus mandatos, Lula e o PT provaram que é possível vencer a fome no Brasil.

Apesar de ignorado pelo presidente, o problema da fome, que parecia superado, voltou a assolar o país. E tudo piorou no governo atual, que permanece completamente alheio aos 20 milhões de brasileiros que passam 24 horas ou mais dias sem comer. Mais da metade (55%) da população brasileira sofria de algum tipo de insegurança alimentar em dezembro de 2020.

Os dados são do “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil” da Rede Pessan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). Segundo a pesquisa, 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos. Desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave) e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome (insegurança alimentar grave).

A pandemia do coronavírus veio para agravar uma situação que já era muito dramática. E a falta de resposta por parte de Bolsonaro e seus pares transformaram até mesmo o vírus em um inimigo menor do que a inércia do poder público.

A fome é um problema premente que condena as pessoas a um ciclo permanente de pobreza e miséria. Quem tem fome não consegue pensar em mais nada, e nem deveria. O ser humano precisa se alimentar para manter seu foco, sua essência e sua humanidade.

A pobreza no Brasil

E o problema do Brasil é ainda maior. Segundo a FGV Social, a taxa de desemprego entre os pobres é muito mais alta. Do terceiro trimestre de 2019 até o segundo trimestre de 2021, o problema aumentou em 9% para esse grupo.

A renda da metade mais pobre da população caiu 21,5% em termos reais nesse período. 9,4% na média da população e 7,2% entre os 10% mais ricos. Isso quer dizer que a população mais pobre sente esses efeitos 3 vezes mais.

Nos últimos 12 meses, o preço dos combustíveis aumentou em cerca de 40%. Não por coincidência, a desvalorização do real frente ao dólar acompanha essa mesma porcentagem. Quem lucra com essa política são os acionistas internacionais da Petrobras. A explicação não depende de muito raciocínio, Bolsonaro e Paulo Guedes adotam essa política visando a privatização da Petrobras. Enquanto isso, a população depende do lixo, de ossos e restos de comida para sobreviver.

Com o combustível mais caro, o preço dos alimentos também aumenta, é um efeito dominó que aprofunda ainda mais esse ciclo de pobreza e miséria. Com inflação e desemprego nas alturas, o resultado é a desaceleração da economia e a estagflação, o que vivemos agora. Marcelo Neri, diretor da FGV Social, explica que será preciso aumentar a taxa de juros e até o desemprego para desaquecer e tentar combater a inflação. Como resultado, mais desemprego. Nada disso é coincidência. A inflação tem consumido o poder de compra do brasileiro. Bolsonaro tenta jogar a culpa nos governadores, mas ele e Paulo Guedes são os únicos culpados por essa realidade cruel.

Governos do PT e o combate à fome

Há pouco tempo, o problema da fome no Brasil parecia resolvido. Em 2014, saímos do Mapa da Fome da ONU pela primeira vez na história. Um dos primeiros atos de Lula, dez dias após sua posse, em 2003, foi promover uma viagem com uma comitiva de 30 ministros ao semiárido e à periferia do Recife. O objetivo era levar os formuladores de políticas públicas ao contato direto com a realidade da extrema pobreza, reiterando assim o foco no combate à fome.

Lula também retomou o Consea e criou o Programa Fome Zero, assim como o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA) e a assessoria especial na Presidência da República, além de um orçamento de R$ 1,8 bilhão destinado para ações do Fome Zero.

No primeiro ano, o Programa beneficiou 11 milhões de pessoas em 2.369 municípios concentrados especialmente no semiárido e nas regiões mais pobres do Nordeste. Outro legado do governo Lula foi a lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, que define o que o Brasil considera ser Segurança Alimentar e Nutricional. Isso foi um marco importante no combate à fome no País, pois garantiu que a segurança alimentar e  nutricional se tornasse uma questão de Estado, não de governos.

A partir daí, o governo investiu em uma série de medidas que levaram o Brasil a vencer a fome. Essas medidas estavam baseadas em duas premissas: garantia de alimentos e garantia de renda. Dentre elas, programas de apoio a pequenos e médios agricultores, distribuição de terras a famílias de agricultores, reforço da merenda escolar com produtos da agricultura familiar, formação de estoque de alimentos para impedir disparada de preços, aumento real sistemático do salário mínimo, uso do Estado para estimular o desenvolvimento, mantendo a taxa de desemprego nos menores níveis da história, manutenção da inflação sob controle, programas de transferência de renda para as famílias mais vulneráveis, como o Bolsa Família.

O legado de Lula no combate à fome é reconhecido internacionalmente. Foi necessário um presidente que conhecia a fome na pele para que o Brasil pudesse alcançar esse objetivo, já que a cabeça pensa onde os pés pisam. Com Bolsonaro, a situação é oposta. Ele e sua família ostentam, viagens, mansões e churrascos caríssimos enquanto o povo não tem o que comer. O estrago feito é tão grande que o País parece ter regredido décadas, para aquela época retratada por Maria Carolina de Jesus, de muito apetite, pouca comida e nenhuma dignidade.

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