Em debate na TV Aparecida, Haddad defende que “o povo é parte da solução, não problema”

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No debate entre os presidenciáveis realizado na noite desta quinta-feira (20/09), Fernando Haddad, candidato a presidente pela coligação “O Povo Feliz de Novo”, defendeu que é preciso “recuperar a confiança do povo, sobretudo do povo mais pobre”. Para Haddad, “o povo é parte da solução, não problema”.

O candidato afirmou que irá revogar a reforma trabalhista e a emenda constitucional 95,  que congelou por 20 anos os investimentos públicos. O governo de Haddad irá investir na geração de empregos e oportunidades. “Precisamos olhar para aqueles para quem está faltando renda para terminar o mês”, defendeu.

Haddad ressaltou que a ética na política passa por favorecer os mais pobres e pelo fortalecimento das instituições para o combate à corrupção.

Fernando Haddad, candidato à presidência, participa do debate da TV Aparecida (Foto: Ricardo Stuckert)

O arcebispo de Brasília (DF) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Sergio da Rocha, abriu o debate afirmando as qualidades esperadas não só para o encontro desta noite, mas também para a política em geral no país. Propôs um diálogo respeitoso, um debate  não violento, que permita contribuir para maior conhecimento das propostas políticas e de cada candidato. Para o presidente da CNBB, a política possui papel fundamental na democracia, na busca por um mundo de maior justiça e paz. O arcebispo convidou os cristãos “a participarem da vida política como sal da terra e luz do mundo”.

O Cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de SP, apresentou a pergunta inicial tratando da relação promíscua entre público e o privado, carregada de corrupção e perguntou se é possível retomar o caminho da ética na democracia.

Para Haddad, a questão da ética na política deve ser encarada a partir de dois pontos de vistas: “O primeiro é fortalecer todas as instituições que combatem a corrupção no estado sem referência partidária, sem identidade religiosa, política, de nenhuma natureza”. O presidenciável defendeu que é preciso “individualizar aqueles que cometeram atos ilícitos e punir exemplarmente”.

Além disso, Haddad ressaltou que a questão da ética na política passa por uma Controladoria-Geral da União forte, por uma Polícia Federal forte, por um Ministério Público forte – e com uma justiça forte e apartidária. “Foi isso que procuramos fazer durante todos os anos que governamos o país. Fortalecemos e isso é dito por essas instituições”. O petista concluiu esse ponto defendendo que “não podemos enfrentar a corrupção a não ser fortalecendo as instituições, doa a quem doer”.

Para Haddad, “o segundo aspecto da ética na politica é favorecer os mais pobres e fazer programas que atendam à juventude, que façam a juventude chegar nas escolas, nas universidades, escolas técnicas, médico pra quem não tem, remédio pra quem não tem, casa para quem não tem”. O candidato destacou que os programas sociais desenvolvidos pelo PT ao logo dos 12 anos de governo “foram muito exitosos no sentido de oferecer dignidade”. Portanto, “é preciso fazer o dinheiro chegar ao pobre e combater a corrupção por meio do fortalecimento das instituições”.

Os sete candidatos que participaram nesta quinta-feira do debate da TV Aparecida, (Foto: Ricardo Stuckert)

Os demais candidatos defenderam que “o combate à corrupção tem que ser prioridade”, como afirmado por Álvaro Dias (Podemos) e que “as pessoas precisam votar em ideias e projetos, não em pessoas” – e que, nas situações em que as instituições não conseguirem responder aos problemas, o governo deve “chamar o povo a resolver via plebiscitos e referendos”, de acordo com o proposto por Ciro.  “O país está sendo derrotado pela corrupção”, afirmou Marina Silva (Rede), defendendo a necessidade de maior transparência, além do fortalecimento das instituições.

Geraldo Alckmin (PSDB), por seu turno, disse que é preciso fazer uma reforma política que implemente o voto distrital misto. E que a Lava Jato precisa ser fortalecida. Defendeu ainda a inversão do ônus da prova para os agentes públicos. Guilherme Boulos alertou que o Brasil não vive apenas uma crise econômica: “Vive uma crise de destino”. Concordou que é preciso realizar uma “profunda reforma política” que enfrente a “promiscuidade entre o público e o privado” e o “toma-lá-dá-cá”.

Haddad x PSDB
No segundo bloco, os candidatos fizeram perguntas diretas um ao outro, em ordem definida por sorteio. Haddad pediu a opinião de Alckmin sobre a reforma trabalhista e sobre o teto dos gastos, nefastas medidas implementadas pelo governo ilegítimo de Temer e do PSDB.

Alckmin defendeu a reforma trabalhista, dizendo que “modernizou a legislação” trabalhista do país. Atribuiu a crise atual do país ao PT. E jogou a culpa do ilegítimo governo de Michel Temer na vítima do golpe: Dilma e o PT.

Foi a deixa para Haddad “colocar os pingos nos is”, lembrando que “quem se uniu a Temer para dar o golpe foi o PSDB. Foi o PSDB que colocou o Temer lá”. O petista destacou que o “serviço público durante o governo Temer-PSDB entrou em colapso”, e que ambos implementaram um “programa totalmente diferente do aprovado nas urnas”. Haddad sugeriu a Alckmin ler a entrevista de Tasso Jereissatti, em que o tucano assume que o partido sabotou o governo de Dilma desde sua reeleição e que o ingresso do PSDB no governo de Temer foi um grande erro.

Haddad concluiu sua intervenção no tema afirmando que seu governo irá “revogar a reforma trabalhista, que fragiliza o trabalhador frente ao empregador”, bem como revogar a emenda constitucional 95, que congela os gastos públicos por 20 anos.

Para Haddad, as medidas em questão “colocam em risco a saúde social do país”. É preciso “olhar para quem está faltando renda para terminar o mês. Se nós não olharmos para esse trabalhador agora, nós vamos colher frutos muito ruins”. O petista defendeu que “precisamos recuperar a confiança do povo. Para voltarmos a ser felizes de novo”.

Geração de emprego e renda
Ainda no segundo bloco, Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central do governo Lula por oito anos, questionou Haddad sobre como fará para recuperar a confiança dos investidores na economia brasileira.

O pestista destacou que, durante os governos de Lula e Dilma, “geramos 20 milhões de empregos”, sendo “quase 17 milhões na iniciativa privada”. Haddad concluiu: “vamos recuperar a confiança dos investidores, mas vamos sobretudo recuperar a confiança do povo mais pobre”.

Nos governos de Lula e Dilma, foram criados 20 milhões de empregos com carteira assinada e, pela primeira vez na história da economia brasileira, chegou-se a um número maior de pessoas com empregos formais do que na informalidade. Em 2014, registrou-se o mínimo histórico na taxa de desocupação (4,9%), de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com Temer, o desemprego chegou a 12,3% em agosto de 2018, ou seja, 12,9 milhões de pessoas desocupadas.

Programas como o PAC e o Minha Casa Minha Vida, criados por Lula, injetaram investimento público na economia, incentivando a retomada do investimento privado, gerando emprego e fortalecendo o consumo e o mercado interno. E serão retomados no governo de Haddad e Manuela d’Ávila, ao lado do programa Meu Emprego de Novo.

Nos governos petistas, as políticas públicas pela igualdade de gênero também se fizeram presentes de forma transversal, garantindo acesso a direitos, fortalecimento econômico das mulheres, combate à violência de gênero e redução das desigualdades entre homens e mulheres. Programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, especialmente, deram às mulheres o protagonismo no controle econômico, com geração de trabalho e renda para famílias brasileiras de baixa renda, alvos do ataque do vice de Bolsonaro.

Brasil de paz e acolhida
No terceiro bloco, os jornalistas apresentaram questões aos candidatos. Haddad foi questionado sobre a questão da migração de outros países para o Brasil e como lidar com ela, evitando crises humanitárias. O candidato petista afirmou que esse é um tema muito importante para ele, lembrando ser de família libanesa, que foi acolhida pelos brasileiros.

Haddad contou que quando foi prefeito de São Paulo, uma cidade que historicamente recebe grande fluxo migratório, “recebemos todos os migrantes com políticas públicas que se transformaram em lei”. O presidenciável afirmou que “São Paulo se transformou em exemplo no mundo em políticas de acolhimento a migrantes”.

Haddad defendeu, ainda, que o Brasil tem que dar um exemplo de paz. “O Brasil tem um grande papel nesse tema. Pela tradição de paz que tem e para ajudar a combater a intolerância, que está aumentando no mundo”. Haddad lembrou que “países que optaram pela violência, colheram violência. Não adianta recrudescer. Temos que plantar paz para colher paz”.

Quarto bloco
No quarto bloco, Ciro perguntou a Haddad sobre a reforma tributária. O candidato do PT falou sobre as distorções da tributação da renda no Brasil, resumindo que “quanto mais pobre você é, mais imposto você paga, e quanto mais rico você é, menos você paga”. Para Haddad, é preciso “cobrar dos milionários que não pagam impostos. É preciso taxar dividendos, grandes fortunas e heranças”.

Haddad também defendeu a simplificação da estrutura tributária na área do consumo, explicando a proposta do plano de governo da coligação para criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) que simplique e diminua a carga tributária sobre o consumo. Trata-se de uma proposta que também irá favorecer a população mais pobre.

No plano de governo de Haddad, Manuela e Lula, uma das propostas na área tributária é o Imposto de Renda Justo, que irá isentar  aqueles que recebem até cinco salários mínimos. Uma proposta bem diferente daquelas que circularam esta semana da parte das equipes de outras candidaturas.

No debate, Haddad explicou que “Lula fez uma das maiores reformas tributárias da história do país, que foi colocar o pobre no orçamento”, assegurando a redistribuição dos tributos arrecadados pelo poder público. “O dinheiro chegou na mão do pobre”.

Família e programas sociais
Haddad perguntou a Álvaro Dias sobre a situação da família no Brasil de hoje, e recebeu em troca um ataque marcado pela raiva e preconceito contra o PT e os trabalhadores. O petista explicou a Álvaro Dias que, durante os governos de Dilma e Lula, a família brasileira foi muito valorizada e bem-cuidada. “O Minha Casa Minha Vida entregou quase 3 milhões de casas. O ProUni concedeu mais de 2 milhões de bolsas. O Bolsa Família é reconhecido mundialmente. Esse é o Brasil que as pessoas querem de volta”.

No quinto e último bloco, os candidatos responderam a perguntas de integrantes da igreja católica. Ao candidato do PT, foi perguntado sobre como promover a superação da violência – complexa e assustadora -, que hoje atinge o país.

Haddad começou sua resposta destacando a relevância do tema, que “aflige todos os brasileiros e brasileiras”, dizendo que é preciso tratar da situação em conjunto. Para o candidato do PT à presidência, “é preciso, primeiro, voltar investir no social. Deus distribuiu o talento democraticamente. Cabe aos homens distribuir as oportunidades democraticamente. Se não distribuirmos oportunidades, a violência vai aumentar”.

Além disso, Haddad destacou o imperativo de se coibir a violência. “Nesse ponto, o Estado tem que ser forte, tem que ser duro”. Atualmente, existe uma sobrecarga de responsabilidades sobre os governos estaduais, e não está sendo possível aos Estados dar conta da situação. “É preciso criar um Sistema Único de Segurança Pública”. Para Haddad, é importante que os prefeitos trabalhem em mais parceria com os governadores, “uma prática que precisa ser estabelecida em lei”.

O candidato concluiu defendendo que “é preciso federalizar a investigação de alguns crimes relacionados a organizações criminosas”, que operam atualmente no plano nacional. “Para isso, a Polícia Federal vai ser fortalecida para atuar em relação a essas organizações. E isso vai liberar as forças policiais locais para atuar sobre crimes que atingem de forma mais dura a população – como o homicídio, estupro e roubo”.

Em suas considerações finais, Haddad destacou: “estive ao lado do presidente Lula durante seus oito anos de governo. Lula, que foi o maior estadista da história desse país, tinha duas obsessões: trabalho e educação.  Foi o presidente que mais gerou empregos na história do país e eu cuidei da parte da educação durante seis anos do seu governo. Dobramos os investimentos públicos por aluno na educação básica e abrimos as portas das universidades para os jovens trabalhadores. Para o filho do pedreiro, para o filho da lavadeira. Nunca houve tanta democratização de acesso à educação superior e à educação profissional na história desse país como nesse período”.

E concluiu: “Deus deu talento para todos nós. Cabe ao estado garantir oportunidade pra que esse talento se revele. nós podemos voltar a ser felizes de novo: o povo poder comer, beber,trabalhar, estudar”.

Relevância do debate

O debate da TV Aparecida permitiu ao eleitor ouvir as opiniões e propostas da candidaturas sobre várias temáticas. O debate trouxe um olhar social bastante acurado e cuidadoso sobre questões sociais. Algo que deu ao debate um diferencial e um papel bastante importante para esse momento da eleição, e permitiu à população brasileira perceber, mais nitidamente, a existência de blocos relativamente mais consolidados sobre a situação do país e os caminhos para melhorar a vida do povo.

Nesse sentido, saltou à vista que Alckmin, Meirelles e Álvaro Dias podem tentar a todo custo mostrar-se diferentes uns aos outros – mas é notório como são todos integrantes de um mesmo modo de pensar e fazer política, perfeitamente resumido no desastre que é o governo de Temer. Isso se fez notar em temáticas de grande importância que permearam o debate de hoje, como a questão de gênero.

Alguns pontos altos do debate disseram respeito ao combate ao trabalho infantil, ao questionamento da reforma trabalhista, à agenda da democratização da mídia, ao fortalecimento da Educação e Saúde Públicas, à valorização das populações tradicionais (como indígenas e quilombolas), entre outros.

Esses pontos não apenas justificam que o eleitor assista com calma e atenção ao debate (caso ainda não tenha tido a oportunidade de fazê-lo), como também permitem identificar que Boulos, Haddad, Ciro e Marina compuseram um quadro interessante, de diferentes maneiras, em oposição ao que os outros três candidatos representaram – bem como ao que o candidato ausente, Jair Bolsonaro, propõe para o país.

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Haddad no Debate da TV Aparecida: Ética na Política